Por Vicente Nunes / Correio Braziliense

O Banco Central está diante de um bom problema e não será nenhum desgaste para a instituição divulgar uma carta à nação explicando as razões se a inflação deste ano fechar abaixo de 3%, o piso da meta fixada em lei. Essa é a visão do economista Carlos Eduardo de Freitas, que, por duas vezes, foi diretor da instituição. “É melhor explicar que a inflação ficou abaixo do piso da meta do que ter de justificar o porquê de o custo de vida ter estourado o teto da meta”, afirma Freitas.

Na opinião dele, em vez de criticar o BC, o governo deveria aproveitar o momento de mudança estrutural na inflação e nas taxas de juros para reduzir para 3% a meta a ser perseguida pelo BC.

REDUÇÃO GRADUAL – Neste ano e no próximo, o centro da meta de inflação é de 4,5%. Em 2019, foi fixado em 4,25% e, em 2020, em 4%. “É preciso continuar nesse caminho de redução gradual. Uma meta de inflação de 3% é mais do que razoável”, ressalta o economista. Para ele, a meta inflacionária do país está ainda distante da registrada nos países emergentes, de 3%.

Freitas ressalta que as surpresas positivas da inflação decorrem, principalmente, dos preços dos alimentos.  Nos 12 meses terminados em agosto de 2016, esses produtos acumulavam alta de quase 17%. Nos 12 meses finalizados em agosto deste ano, há uma queda acumulada superior a 5%. “Foi muito forte a virada. E não podemos esquecer os o grupo alimentação responde por quase 25% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Qualquer movimento nesse grupo de preços faz a diferença”, ressalta.

Para o ex-diretor do BC, nem mesmo o fato de o Ministério da Fazenda não ter conseguido conter o aumento de gastos públicos impediu a retomada do controle da inflação. “Temos espaço para levar a taxa básica de juros (Selic) para até 7% ao ano”, frisa.

 

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