Por Leandro Colon
Folha

Se não der nenhuma zebra nas próximas semanas, a Câmara vai barrar, mais uma vez, uma denúncia da PGR contra Michel Temer. Será uma nova peça de teatro com um roteiro batido e previsível. Assistiremos aos barracos barulhentos na Comissão de Constituição e Justiça. Deputados da base governista e da oposição trocarão insultos nas sessões e a turma do chamado centrão tentará, como de costume, vender caro o seu apoio ao presidente.

Passada a CCJ, as cenas de fisiologismo explícito vistas em plenário na primeira denúncia vão se repetir. Enquanto o centrão barganha de um lado, o Planalto abre, de outro, o balcão de emendas e cargos. E o PSDB, naquele tradicional vai-não vai, no fim entrega os votos a Temer.

UM CERTO VALOR – O fato é que ninguém na Câmara – nem a oposição (sobretudo o PT, encalacrado na Lava Jato) – almeja derrubar o presidente. Os deputados querem só usar a peça feita pela PGR para mostrar que eles têm certo valor (e ponha “valor” nisso).

A fatura, aliás, desta vez sairá mais barata para o governo. Apesar da turbulência natural que causou, a nova acusação não passa de um catado de delações de todas as patentes e interpretações subjetivas e confusas, algumas embasadas por investigações ainda em andamento.

FALTAM PROVAS – A tal bomba que se esperava com a delação do doleiro Lúcio Funaro virou – ao menos, por enquanto – um traque. O que se viu até aqui de sua colaboração é um amontoado de disse me disse e histórias já sabidas. É bem provável que grande parte do que ele contou seja verdade, simplesmente pelo fato de envolver figurinhas carimbadas de escândalos de desvios – mas daí transformar esses relatos em elementos probatórios para formular denúncia contra alguém a distância é gigantesca.

Esse jogo parece ganho para Temer. Apenas um fato novo e extremamente grave pode impedi-lo de concluir o mandato, ainda que o faça aos trancos e barrancos, sob uma popularidade pífia e vergonhosa.

 

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