Por Catarina Alencastro / O Globo

Embora negue qualquer movimento para derrubar o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), adotou um comportamento diferente do que teve durante a tramitação da primeira denúncia contra o presidente, entre julho e agosto. Se naquele período Maia, que é o primeiro na linha sucessória do presidente, ajudou o governo a conquistar votos para barrar as investigações, agora ele se sente liberado da tarefa.

A mudança pouco tem a ver com o conteúdo da nova denúncia, que começou a ser apreciada na semana passada pela Câmara, na qual Temer e dois ministros são acusados de formação de quadrilha e obstrução da Justiça. Sua insatisfação com o Planalto foi causada, principalmente, pela abordagem que o partido de Temer, o PMDB, faz sobre quadros políticos que vinham sendo cobiçados pelo DEM.

FORTALECER O DEM – Devido ao poder que ganhou na presidência da Câmara e, posteriormente, como sucessor natural de Temer, combalido por denúncias que podem afastá-lo do Planalto, Maia assumiu a tarefa de aumentar o tamanho de seu partido. O principal alvo do DEM era o grupo de parlamentares da ala dissidente do PSB. O PMDB atravessou o caminho e já conseguiu levar o senador Fernando Bezerra Coelho e o filho dele, o ministro Fernando Coelho Filho. A líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), teve várias conversas com Maia sobre mudança para o DEM, mas também tem sido cortejada pelo PMDB.

No último dia 20 de setembro, uma semana após Rodrigo Janot apresentar a segunda denúncia contra Temer, Maia tornou público o que vinha falando nos bastidores: “Se nós somos aliados, nós temos que ser aliados. A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB. Principalmente dos ministros do Palácio e do presidente do PMDB”.

SEM COMPROMISSO – Apesar das seguidas demonstrações de Maia de que a relação com o presidente azedou, interlocutores seus afirmam que não partirá dele a iniciativa de se movimentar para afastar o presidente.

“O Rodrigo puxou para si a tarefa de fazer o DEM crescer. E o PMDB está atropelando. Isso o tem deixado indignado. Ele sente que não tem mais compromisso com o governo. Mas não quer fazer o gesto de agir contra o presidente porque não acha correto. Se alguém quiser fazer, ele não vai impedir — disse um deputado amigo.

Líderes de partidos da base aliada veem as atitudes de Maia como um movimento irreversível para o rompimento do DEM com o governo. A avaliação é que o projeto político do partido para 2018 inclui o afastamento imediato do governo Temer. O projeto prevê as candidaturas de Cesar Maia ao Senado, de Rodrigo ao governo do Rio e de ACM Neto ao governo da Bahia. Mas não está descartada a presença do partido na chapa presidencial.

MAIA E ACM NETO – “Quem vai decidir esse rompimento é o Rodrigo Maia e o ACM Neto. Quem ainda segura é o ministro Mendonça Neto. O Rodrigo tem dado avisos muito claros, está arrumando desculpas para justificar o rompimento” — avalia um dirigente de um dos partidos da base do governo.

A ordem no Planalto é não alimentar o confronto com o presidente da Câmara, para não dar mais importância ao embate do que ele realmente tem. Assessores dizem que o governo não vai fingir que os problemas não existem, mas evitará o embate direto.

 

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