Por Marina Dias e Daniel Carvalho / Folha

 

Não foi com grande vantagem, mas Rodrigo Maia largou à frente de Michel Temer na maratona que vai definir quem conduzirá a agenda de recuperação econômica do país até meados de 2018. Enquanto o presidente da República concedia, em troca de apoio, cargos no governo, emendas parlamentares e acesso à máquina federal em ano de eleição, entre outras benesses, o chefe da Câmara estimulava deputados da base aliada a darem a Temer uma vitória pífia, que obrigaria o Palácio do Planalto a permanecer refém das barganhas do Congresso. E o resultado de apenas 251 votos favoráveis a Temer — menos da metade dos 513 que compõem a Casa — deu ao deputado inequívoca vantagem.

 NO LIMITE – Segundo a Folha apurou junto a integrantes do mercado, principal pilar no apoio às medidas de ajuste fiscal, o tamanho da vitória desta quarta-feira (25) deixou o presidente “no limite”, sem força política para se livrar das chantagens dos parlamentares, atendidas prontamente até aqui em troca do sepultamento da denúncia. Analistas do mercado afirmam ter observado com atenção o plenário da Câmara durante todo o dia. Horas antes da votação, avaliavam que Temer tinha um teto de 253 votos, dez a menos do que obteve na sessão que barrou a primeira denúncia contra ele, se quisesse provar que ainda era capaz de governar.

A conta era objetiva: caso conseguisse mais de 263 votos, como alardeavam ministros e líderes da base antes do resultado final, recuperaria protagonismo e poderia, inclusive, aprovar uma reforma da Previdência diluída.

REFORMA MITIGADA – O governo já admite colocar em votação mudanças na aposentadoria de forma desidratada, preservando somente a idade mínima (65 anos para homens e 62 para mulheres), o tempo de contribuição de pelo menos 25 anos e uma regra de transição. Se o presidente conseguisse entre 253 e 263 votos, mostraria certo fôlego na condução da pauta econômica, porém, sem capacidade de liderar a aprovação da reforma, mesmo nos novos moldes acordados pelo governo, porque — a medida precisa do apoio de 60% dos congressistas.

Abaixo dos 253 votos, como foi o caso, o diagnóstico do mercado era ruim para Temer. Segundo essa avaliação, com o apoio de menos da metade da Câmara, o presidente só aprovaria no Congresso as propostas aceitas pelos partidos e pelos comandos de Câmara e Senado.

 MAIA DESPONTA – Neste quadro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem esticado a corda com o Planalto desde a votação da primeira denúncia, em agosto. No cenário em que Temer salvou seu mandato pela segunda e provavelmente última vez, Maia precisou reformular o discurso e testar seu protagonismo para 2018. As articulações miram seu projeto pessoal, de se reeleger deputado federal e presidente da Câmara, e o de seu partido, o DEM, o qual quer fortalecer e fazer avançar sobre uma fatia do eleitorado, de centro-direita, que interessa também ao PMDB.

O DIA SEGUINTE – Na previsão de aliados, a disputa entre Maia e Temer deve fazer com que o dia seguinte à crise, termo tão utilizado por ambos, se arraste até meados do ano que vem. Diante da apertada vitória de Temer, Maia disse que o presidente tem que refletir. “Não usei a presidência da Câmara nem quando o Planalto me desrespeitou”, disse Maia, aconselhando o governo a “avaliar resultados”.

“Cada um tem que conduzir a sua relação da forma que entende. Não vou ficar ensinando ao presidente da República, que foi presidente da Câmara três vezes, como ele tem que manter a relação com o Parlamento”, salientou Maia.

 

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