Em busca de um reequilíbrio da base governista após a votação da segunda denúncia contra Michel Temer, aliados do presidente pressionam o Palácio do Planalto a antecipar a reforma ministerial prevista para abril. Líderes partidários e auxiliares sugeriram a Temer que ele faça substituições pontuais no primeiro escalão da Esplanada dos Ministérios ainda em 2017, para tentar destravar a extensa pauta de projetos de interesse do governo no Congresso.
Na avaliação de aliados, a redistribuição imediata de espaços no governo é necessária para aplacar o descontentamento de sua base no Congresso e obter apoio para medidas consideradas urgentes pelo Planalto.
O presidente e sua equipe econômica precisam aprovar ainda este ano um pacote de ajuste fiscal que tem impacto nas contas de 2018, como o adiamento do reajuste de servidores, o aumento de sua contribuição previdenciária e a tributação de fundos de investimento exclusivos. Os defensores da antecipação da reforma ministerial argumentam que a redistribuição de cargos apenas em abril vai estender a insatisfação dos partidos aliados até o ano que vem e inviabilizar o sucesso dessa agenda.
A tentativa de aprovar uma versão da reforma da Previdência pode servir de estímulo ao Planalto para acelerar as mudanças na composição do governo, creem aliados de Temer. O projeto ainda é uma das principais bandeiras do presidente, mas foi bloqueado pela insatisfação dos partidos de sua coalizão.
Temer apresenta resistências à ideia de promover trocas em seu primeiro escalão de auxiliares ainda este ano. Ele acredita que essa redistribuição poderia causar novos atritos em um momento em que seu governo ainda recupera fôlego, após vencer duas denúncias da Procuradoria-Geral da República em três meses.
Por isso, o presidente mantém o plano de fazer uma mudança profunda na composição da Esplanada apenas no prazo de desincompatibilização para as eleições do ano que vem. Dezessete de seus 28 ministros devem deixar seus cargos até o dia 7 de abril, a seis meses do primeiro turno de 2018.
O objetivo de Temer é aproveitar a distribuição desses espaços para exercer poder nas articulações de sua sucessão no Planalto. Nesse caso, a partilha de postos no governo se daria em meio à barganha por alianças para a corrida presidencial e na construção de palanques locais para fortalecer seu partido, o PMDB.
FIDELIDADE
Aliados de Temer retomaram a pressão pela troca de postos no primeiro escalão por acreditarem que as taxas de fidelidade dos partidos na votação da segunda denúncia contra Temer revelaram uma partilha de cargos defasada no governo. O espaço ocupado pelo PSDB voltou a ser o alvo de maior cobiça. Só 43% da bancada tucana votou a favor de Temer na última quarta (25), mas o presidente insiste em manter o partido à frente de quatro ministérios.
Siglas como o PP, que deu 84% de seus votos ao presidente, cobram a redistribuição dessas pastas –principalmente o Ministério das Cidades, com Orçamento robusto e ações pulverizadas em municípios por todo o país, e a Secretaria de Governo, responsável pela distribuição de emendas parlamentares e cargos federais.
Também há cobranças sobre a situação de ministros que foram indicados por partidos que ajudaram a formar o governo Temer, mas continuaram no cargo depois que suas siglas se distanciaram do Planalto –o que ajudou a desequilibrar a balança de poder no primeiro escalão.
O caso mais emblemático é o de Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), que pediu desfiliação do PSB esta semana. Ele chegou a acertar sua ida para o PMDB, mas disputas internas na legenda reacenderam no DEM as esperanças de conquistar seu passe.
Já o ministro Sarney Filho (Meio Ambiente) pode deixar o PV, que deu apenas três de seus sete votos para Temer na última quarta. Ele pode entrar para o PSD.
Folha de S.Paulo – Bruno Boghossian
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