É uma situação desagradabilíssima, causada pela falta de transparência na divulgação da doença que levou o presidente Michel Temer a sofrer uma cirurgia. Não importa qual seja o caso clínico, o fato é que o estado de saúde do chefe do governo (seja ele quem for) é do interesse direto de todos os governados, numa relação de causa e efeito. No caso específico de Temer, por se tratar de um problema que afeta o desempenho sexual, o assunto dá margem a brincadeiras e piadas de mau gosto, provocando reações dos defensores da próstata do presidente, que são logo identificados por costumarem puxar o saco de qualquer autoridade que lhes apareça pela frente, e o assunto ameaça até cair no ridículo.
Mas não deve ser assim, é preciso tratar a questão com um mínimo de seriedade, porque a falta de transparência e as contradições realmente estão dando margem a muitas dúvidas.
CONTRADIÇÃO 1 – A equipe do Hospital Sírio-Libanês, onde o presidente foi operado na noite de sexta-feira, divulgou boletim médico afirmando que a obstrução urinária fora causada por compressão da uretra pela próstata (hiperplasia prostática benigna). Com esse diagnóstico, desmentiu a equipe do Hospital do Exército, que deu o primeiro atendimento e revelou que a obstrução urinária tinha sido causada por um coágulo, fruto de sangramento.
Ficou parecendo que o Hospital do Exército, o melhor de Brasília, havia cometido um erro de diagnóstico, e chamamos atenção para este fato aqui na “Tribuna da Internet”, na manhã de sábado. Logo depois, houve uma entrevista dos médicos que atenderam Temer no Sírio-Libanês e foi confirmado o diagnóstico de obstrução da uretra por aumento de volume da próstata, sem mencionar a existência do coágulo e até dizendo que não fora constatado nenhum sangramento.
CONTRADIÇÃO 2 – Ainda no sábado, o site da revista “Veja” publicou uma matéria da repórter Adriana Dias Lopes, informando que na cirurgia foram extraídas amostras da bexiga para passar por biópsia. “O material foi retirado da área ao redor do coágulo que havia se formado no órgão – a causa da obstrução urinária que o acometeu. Os médicos também coletaram um pedaço do tecido da cápsula da próstata para análise”, revelou a jornalista, acrescentando que em 2011 o presidente foi mesmo submetido a uma operação que removeu todo o miolo da glândula, segundo “Veja” apurou com exclusividade.
E assim aumentou novamente o mistério sobre a doença de Temer, porque o Sírio-Libanês não mencionou a existência de coágulo, fruto de sangramento, muito pelo contrário. Mas agora o coágulo reapareceu, na nota publicada pela “Veja”, que está desmentindo o renomado hospital paulista.
SEM TRANSPARÊNCIA – É deprimente esta falta de transparência em caso médico envolvendo o presidente da República, que é assunto de interesse de todos os brasileiros, repita-se. Mas também foi assim com Costa e Silva e depois com Tancredo Neves.
Segundo a “Veja”, o resultado das duas biópsias somente será conhecido na segunda-feira e a equipe do Sírio-Libanês quer dar alta ao presidente de imediato, para que ele reassuma o cargo na quarta-feira, o que significa que teremos o senador Eunício Oliveira tomando conta do Planalto por dois dias, no mínimo, pois o deputado Rodrigo Maia está em viagem turística no exterior, acompanhado por nove parlamentares, tudo pago com recursos públicos, claro, e não voltará para assumir.
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