Via Pedro do Coutto

Basta pensar um pouco de forma comparativa para se verificar que, na verdade dos fatos, a reforma da Previdência Social não possui ligação nenhuma com a cotação do dólar e tampouco com as oscilações da Bolsa de Valores de São Paulo. Por isso,causa espanto que a oscilação dos mercados de câmbio e de ações possa ter sido influenciada pela primeira fala do Presidente Michel Temer quando admitiu que a reforma previdenciária corria o riso de ser adiada para 2019, ocasião em que seu sucessor estará ocupando o Palácio do Planalto. Acredito que o recuo tenha revelado uma falta de autoconfiança do próprio governo. Mas daí a jogar o dólar pra cima e a Bolsa de Valores pra baixo vai uma grande diferença.

O reflexo foi tão forte, como destaca a reportagem de Adriana Fernandes, Carla Araújo , Igor Gadelha e Paula Dias, em O Estado de São Paulo desta quarta-feira, que o presidente da República recuou do recuo e voltou a dizer que está fortemente empenhado em viabilizar a reforma, seguindo o posicionamento do ministro Henrique Meirelles, para quem a modificação da lei é decisiva.

CARTADA DECISIVA – É uma espécie de cartada para o destino da administração do país. O déficit previdenciário é um fato, porém não é maior do que o custo dos juros que o governo paga pela rolagem da dívida bruta (governos federal, estaduais e municipais, que está batendo a escala de 4,7 trilhões de reais.

Sob outro ângulo, o déficit do INSS, mesmo se fosse zerado, não anularia a defasagem de 159 bilhões verificada nas contas orçamentárias tanto as de 2017 quanto a projeção para 2018. O grande inimigo financeiro da Previdência Social está no desemprego e na sonegação empresarial, fatores que não são enfrentados corretamente pelo governo. No caso do dólar ele pode ter sido impulsionado para cima em consequência da desconfiança com o êxito e com os rumos do Palácio do Planalto.

E NA BOVESPA? – Quanto ao Mercado de Ações, não existe o menor nexo. Afinal de contas, qual a ligação entre os êxitos empresariais e a derrota das contas públicas. No máximo, a dúvida poderia se refletir nas ações das empresas estatais, porém nunca na valorização ou desvalorização dos papeis do capitalismo particular. As ações das empresas estatais, estas sim, possuem vínculo com o déficit das contas públicas, mas não têm qualquer conexão com o orçamento do INSS. Pelo contrário, os ganhos do capital não dependem dos orçamentos previdenciários. Podem depender, em grande número de casos dependem, de créditos do BNDES a juros favorecidos.

Posso citar dois exemplos: a Odebrecht e a JBS. Principalmente no caso da Odebrecht, governo Lula, foram liberados créditos vultosos para sustentar empreendimentos da empresa presidida por Marcelo Odebrecht, em Cuba, Venezuela e Angola. O ex-presidente da empresa encontra-se preso, da mesma forma que Joesley Batista e seu irmão Wesley. Mas esta é outra questão.

Os especuladores que operam no mercado de câmbio e no mercado acionário aproveitam-se de qualquer pretexto para obter lucros. Se for feito um levantamento sobre os compradores de dólares e de ações, num dia, e os vendedores das aquisições, no dia seguinte, talvez se verifique tratar-se das mesmas pessoas ou dos mesmos grupos financeiros. Porém, isso é impossível, porque a vontade do governo corre em sentido oposto.

 

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