A menos de um ano da eleição presidencial brasileira, ainda não há na disputa um líder capaz de conquistar o apoio de vários partidos e da sociedade, afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, nesta terça-feira, 14, em Nova York. Em duas horas de discussão com alunos da Universidade de Columbia, ele evitou se posicionar de maneira clara sobre sua preferência na corrida pelo Palácio do Planalto.

“Não temos um De Gaulle”, disse FHC, em referência ao general que presidiu a França de 1959 a 1969 e liderou o país europeu durante a Segunda Guerra Mundial. “Alguém capaz de dar um sentimento de que estamos juntos.” O tucano lembrou que Charles de Gaulle enfrentou uma situação ainda mais difícil que a vivida pelo Brasil e conseguiu reorganizar a sociedade e fundar a Quinta República, em vigor até hoje.

 FHC disse que a eleição se dará em um cenário de descrédito dos partidos políticos, em uma disputa na qual a questão moral estará no centro da motivação dos eleitores. Perguntado como o PSDB poderá enfrentar essa questão tendo o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado da legenda, como um de seus líderes, o ex-presidente respondeu: “Como todos os outros partidos, como todos os outros partidos. Não há diferença nisso aí. Há uns piores que os outros. O meu é o melhorzinho até”.

A chegada de FHC nos Estados Unidos, nesta segunda-feira, 13, coincidiu com o agravamento da crise interna do PSDB, motivada pela disputa em torno da presidência da legenda e sua permanência no governo Michel Temer. O ex-presidente limitou seus contatos com a imprensa a declarações relâmpago, de no máximo 1 minuto.

Fonte ouvida pelo Estado afirmou que FHC está em contato com líderes do PSDB, na busca de um caminho consensual para definir o comando do partido. Havia a possibilidade de ele se reunir com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que está em Boston, mas o encontro ainda não havia sido marcado nesta terça-feira.

Demagogo. Segundo FHC, o descrédito nas instituições políticas no Brasil se reflete na apatia da população. “Agora não há mais pessoas nas ruas, porque as pessoas não acreditam mais.” A emergência de candidatos vindos da extrema direita é um dos novos fatores da disputa presidencial no Brasil, afirmou FHC, que vê o risco de fortalecimento de um líder demagogo.

Para contrapor essa probabilidade, o tucano defendeu a necessidade de um candidato que seja capaz de se cercar de pessoas competentes, apresentar ideias e se comunicar com emoção. “Os partidos normalmente oferecem essas pessoas. Temos várias pessoas. Mas todos os partidos estão em um mau momento.”

O Estado de S.Paulo – Cláudia Trevisan, enviada especial

 

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