Por Élio Gaspari / Folha de S.Paulo

Quando o senador Renan Calheiros empossou Michel Temer na Presidência da República, disse-lhe baixinho: “Estamos juntos”. Durou pouco, pois Renan foi o primeiro cacique do PMDB a pular do barco da impopularidade de Temer. Aproximou-se do PT, protegendo sua base de poder em Alagoas, Estado governado por seu filho.

Quem foi para a rua ou bateu panela contra o PT em 2016 está hoje diante de uma amarga realidade. O PMDB que deu os votos para a deposição de Dilma Rousseff está namorando o PT e vice-versa.

Lula e Dilma falam em “perdoar” quem defendeu o impeachment.

É uma manobra oportunista, pois a dupla é que deveria pedir perdão por ter jogado o país numa de suas piores crises econômicas. O PT e PMDB costuram seus acordos nas bases municipais e estaduais. Isso começou em Alagoas e hoje já está no Ceará de Eunício Oliveira e no Pará de Jader Barbalho. No Paraná de Roberto Requião, a aliança é mais velha.

Com isso, o grande mico do jogo vai para o tucanato, ainda incapaz de desistir de um governo que o PMDB está abandonando pela beira. Renan Calheiros mostrou-se um sábio, mas ele simboliza também o produto da esperteza da oligarquia política nacional. Sua base eleitoral irradiou-se a partir do município de Murici, com cerca de 40 mil habitantes. Em 2010, 30% de sua população com mais de 15 anos era analfabeta. Boa parte dela está no Bolsa Família.

 

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