O movimento Todos Pela Educação apresentou em audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados análise de pesquisa sobre o nível de alfabetização no país. De acordo com os dados, metade das crianças de 8 e 9 anos que estudam em escolas públicas do país não está alfabetizada.
A análise foi baseada na Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), do Ministério da Educação. Os dados apontam que cerca de um milhão de crianças do ensino fundamental não está com nível de aprendizagem considerada suficiente em leitura, escrita e matemática. O exame foi aplicado no ano passado para 2,1 milhões de alunos da 3ª série de 48 mil escolas públicas, segundo informações do Contas Abertas.
A pesquisa apontou que menos da metade das crianças (45%) tem desempenho suficiente em leitura e matemática. O índice é um pouco melhor em escrita, com 66%. Em matemática, as maiores notas são da região Sudeste, mas mesmo assim apenas pouco mais da metade (57,3%) dos alunos apresentou desempenho considerado satisfatório.
Segundo o gerente de políticas educacionais do movimento Todos pela Educação, Gabriel Corrêa, que apresentou os dados para os deputados, o resultado mostra um quadro gravíssimo, que compromete o futuro do país. Como exemplo, Corrêa destacou que metade das crianças não conseguiu calcular, por exemplo, quanto é 112 mais 93.
“O resultado é um fracasso e desanimador. Não haverá mudanças significativas no país se não melhorarmos a educação. Essa área é fundamental para o crescimento econômico, desigualdade social, segurança pública, saúde e ética, aspecto crucial para o combate à corrupção”, disse.
Outro dado ressaltado por Côrrea em relação à pesquisa foi a desigualdade provocada pela diferença de renda. Escolas públicas localizadas em regiões de nível econômico baixo só conseguem ensinar matemática para 14% dos alunos. Em regiões de padrão econômico alto, o índice sobe para 88%. Nesse aspecto, Corrêa lembrou se fossem consideradas as escolas particulares, o nível de desigualdade regional seria ainda maior.
O caso Ceará
Apesar do cenário desanimador, o movimento Todos Pela Educação apontou que é possível realizar avanços significativos, como fez o Ceará. Em 2007, 90% dos municípios do estado não conseguiam alfabetizar nem metade dos alunos. Em 2015, 77 escolas públicas cearenses estavam dentre as 100 melhores do país. Para Corrêa, isso mostra que é possível fazer avanços, mesmo em situações socioeconômicas mais vulneráveis.
Entre as medidas tomadas pelo Estado do Ceará nos últimos anos estão a cooperação técnica e financeira entre Estados e Municípios, a formação de professores e apoio pedagógico, o acompanhamento frequente do nível de aprendizagem dos alunos e a gestão escolar na escolha de diretores, por exemplo.
“As ações tiveram continuidade e progressividade. Não é fruto de um governo apenas, mas da construção de uma política pública com muitos partidos. Assim, é possível observar uma transformação significativa em apenas oito anos no estado”, afirma Corrêa.
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