Foi entre nulo e ruim o resultado do jantar em que Michel Temer pediu a deputados votos para a reforma da Previdência, na quarta-feira (22). Um líder de partido recalcitrante da coalizão temeriana disse que “nem ministério está fazendo diferença, que dirá um prato de comida com PowerPoint”. Gente da finança e de consultorias que fez pesquisa informal no Congresso, nesta semana, começa a jogar a toalha.
De líderes governistas fieis começa a se ouvir a conversa de que, no limite, existe uma “janela” para votar a reforma entre fevereiro e abril do ano que vem. Em maio, a campanha eleitoral já estará desembestada, com candidaturas a presidente quase todas definidas.
Outro líder diz que, “com alguma flexibilização”, a reforma passa. Qual “flexibilização”? Reduzir a idade mínima exigida para a aposentadoria, de 65 anos para homens e 62 para mulheres, segundo a proposta final do governo. Note-se, de passagem, que a idade mínima não passa a valer imediatamente. Começaria em 55 anos para homens e 52 para mulheres, em 2018. Apenas chegaria a 65/62 daqui a 20 anos.
A CONTA DO GOVERNO
No Palácio do Planalto, no entorno imediato de Temer, se diz que o governo tem no momento entre 280 e 290 votos; que em duas semanas é possível conseguir outros 40. Que seria possível levar a reforma à votação na Câmara até o limite de mínimo de 320 deputados favoráveis à reforma, ao menos da boca para fora.
Entre deputados, o que se ouve é que o governo vai conseguir menos da metade dos votos do PR (que tem 37 deputados) e dois terços do PP (48 deputados) e do PSD (38), aliás partido de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda.
Alguns parlamentares fazem troça do PSDB, que diz ser o “partido das reformas”, mas que não vai fechar questão, não vai exigir de seus parlamentares o voto na reforma.
Enfim, haverá defecções no PMDB e DEM, em tese os líderes deste governo agora um tanto dual, parte de Michel Temer, parte de Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara dos Deputados.
Um deputado do centrão, entre os quais se alinham partidos como PR, PP e PSD, diz que seus colegas simplesmente “não estão mais com a cabeça em reforma alguma”. Que seria preciso haver uma reviravolta na opinião pública, apoio majoritário à reforma, para haver mudança de voto, para o que não há tempo. Dizem, de resto, que mesmo assim a coisa pode não andar, porque haveria muito Estado em que o apoio à reforma continuaria mínimo, em particular no Nordeste, onde a oposição à reforma é ligeiramente maior que a média nacional.
Gente do governo e da liderança governista mais fiel diz que, sem certeza de aprovação, a reforma não será colocada em votação. Para o público, seria fundamental saber enfim que está contra ou a favor da reforma. Para a articulação política do governismo, isso seria colocar os deputados “contra a parede”, dificultaria a aprovação de outros projetos e eliminaria completamente a possibilidade de votar alguma reforma em 2019.
Enfim, seria um carimbo de autenticação da falta de votos e da capacidade do governo de contá-los.
Vinicius Torres Freire – Folha de S.Paulo
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