Por Daniel Carvalho e Leandro Colon / Folha
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu, em entrevista à Folha, a construção de um projeto eleitoral envolvendo partidos da base do presidente Michel Temer que tenha como discurso as reformas do governo. “Você não precisa ter um candidato que faça uma tatuagem ‘eu sou Michel Temer’ na testa, você precisa ter um candidato que tenha uma agenda de reformas, porque naturalmente o governo será beneficiado”, afirmou.
Maia diz não ser candidato à Presidência e declara que é “chance zero” a possibilidade de disputar como vice em uma chapa, apesar da especulação de que poderia compor com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Maia citou o nome do prefeito de Salvador, ACM Neto, como presidenciável do DEM, e disse que o PSDB não pode impor o nome do governador Geraldo Alckmin em eventual aliança.
Durante 2017, o sr. foi tachado de aliado e, num certo momento, de que estava querendo derrubar o presidente. O sr. encerra o ano legislativo como aliado ou uma sombra a Temer e ao PMDB?
Sempre disse que não sairia do processo das denúncias [da PGR contra Temer] com a pecha de oportunista. Sendo o primeiro da linha sucessória, não poderia fazer movimento concreto para empurrar o presidente para fora do Palácio.
Na primeira denúncia, o sr. chegou a sentir que havia um risco de o presidente perder.
Sem dúvida, mas nunca me mexi para isso. Ninguém nunca me viu chamar um deputado para falar “vote contra o presidente”. Todo mundo dizia “Rodrigo, pisca o olho”. Não vou piscar. “Você tá louco. Como está perdendo a oportunidade de ser presidente do Brasil?”. Tenho muita vontade de ser presidente do Brasil. Mas pelo voto. Ou pela naturalidade da decisão do plenário.
O sr. falou que tem vontade de ser presidente. O sr. pode ser candidato à Presidência em 2018?
Não. Hoje tenho um reconhecimento, inclusive da oposição, por não ter sido desleal ao presidente. Tenho o reconhecimento por não ter usado a presidência da Câmara como ela foi usada [pelo então presidente Eduardo Cunha, hoje preso] contra a Dilma. Acho que comecei o ano de um tamanho e terminei com este respeito.
E esse aumento de tamanho já não coloca o sr. numa posição de disputar o Planalto?
Não tenho poder eleitoral. Não acho que as pesquisas, nos próximos meses, virão me dando algum poder eleitoral.
Então, qual o seu plano para 2018?
É que a gente possa ter um projeto de poder com essa agenda de modernização do Estado brasileiro, de reformas. Acho que o DEM pode ser protagonista disso junto com mais um ou dois partidos com quem a gente tem boa relação.
Quais? Não é o PMDB?
Não posso dizer. E não é que neste projeto o PMDB esteja excluído. O meu projeto de poder inclui o PMDB. Uma coisa é o projeto de poder eleitoral. Outra coisa é partidário. Quero construir um projeto onde o DEM possa ser o líder desse novo ciclo da política. Aí sim, daqui a um ano, [formar] um novo partido que possa ter um número relevante de governadores, uma representação importante de 15 a 20 senadores e possa voltar a ter no Congresso um partido com 100 deputados.
Ou seja, o DEM se coligaria a mais dois partidos e, quando acabar a eleição, formariam um só?
Formam um partido só que traga para este projeto pessoas que pensem parecido.
Mas vocês precisam de um candidato próprio à Presidência para isso, não?
O Brasil precisa de um candidato que defenda uma agenda de reformas, que naturalmente é convergente com parte do governo de Temer. Você não precisa ter um candidato que faça uma tatuagem “eu sou Michel Temer” na testa, você precisa ter um candidato que tenha uma agenda de reformas, porque naturalmente o governo será beneficiado.
Esse é um discurso parecido com o do Meirelles. Meirelles é esse candidato?
Não sei qual o papel que o PSD vai exercer. A primeira pergunta que ele [Meirelles] precisa responder rapidamente é se tem ou não tem o partido dele [PSD] para organizar a eleição. O partido dele vai até o final com ele ou não?
O sr. é candidato à reeleição a deputado e presidente da Câmara?
Meu projeto é ser candidato a deputado federal e reeleito. Se a base que eu represento na Câmara for majoritária, posso ser candidato à presidência da Câmara novamente.
O sr. não poderia ser vice numa possível chapa com Meirelles?
Essa chance é zero. Meu protagonismo na Câmara, mesmo não sendo presidente da Casa, é maior do que ser um vice-presidente da República.
O sr. não citou o PSDB. O PSDB não entra nesse projeto com a candidatura dogovernador Geraldo Alckmin?
Nós podemos atrair o PSDB, mas quem quer receber apoio tem que estar pronto para apoiar. Se a discussão impõe que o PSDB terá candidato de qualquer jeito, primeiro vamos construir nosso caminho.
Quem seria o candidato do DEM?
Para mim, o ACM Neto. Quem hoje dentro do DEM tem as melhores condições eleitorais? ACM Neto. Quem dentro do DEM tem hoje as melhores condições políticas? Sou eu. Friamente falando, sem frescura.
Como enfrentar a candidatura de Jair Bolsonaro (PSC-RJ)?
Ele representa uma parte da sociedade que vota nele como sinalização de protesto. A sociedade vai buscar um caminho, que são essas duas palavras: equilíbrio e diálogo. E acho esse ponto o mais frágil do Bolsonaro. Ele dialoga com um segmento da sociedade, não com a maioria.
Esse cenário que o sr. desenha é com ou sem o ex-presidente Lula? O que mudaria a ausência dele?
Gostaria que o Lula disputasse porque eu acho que ele perderia. Para o Brasil é melhor o Lula perder nas urnas. Mas não sou eu que decido pelo Judiciário. O Lula não existindo como candidato, tudo que está colocado em pesquisa é besteira. Vai zerar o jogo. A pressão para que todos esses partidos que, em tese, fazem ou fizeram parte da base do Temer, tenham um candidato diminui e aumenta o número de candidatos.
Qual o peso do chamado “centrão” na disputa presidencial? Terá influência decisiva porque o tempo de televisão desta vez, por ter menos recursos, terá um peso maior. Quem conseguir agregar, com bom projeto, o maior número de partidos, o maior tempo de televisão, vai sair na frente.
Qual será o principal fator dessa eleição? TV, bom projeto e um candidato que tenha condições de visitar o Brasil. Ninguém morre por falta de dinheiro, todo mundo se reorganiza.
Como o sr. vê o discurso no Planalto de que uma derrota da reforma da Previdência seria culpa do Legislativo?
É tudo besteira. Tenho vários itens para tentar transferir para o governo por não ter conseguido votar a reforma. Por exemplo: as duas denúncias [apresentadas pela Procuradoria-Geral da República] eram frágeis, mas teve uma conversa do presidente [com Joesley Batista, da JBS], que não precisava ter. Se aquela conversa não existisse, não haveria denúncia. Alguns auxiliares do Michel, como sempre, falam demais. Isso é ridículo.
Quais as consequências para o governo do adiamento da reforma da Previdência?
O adiamento foi para não ter um resultado negativo. O governo tem um problema – eu alertei o presidente já -, que as duas denúncias geraram um teto, o número de deputados que votaram as denúncias, 260 [na primeira] e depois 250 [na segunda. Enquanto o governo não tiver isso reorganizado, é praticamente impossível votar a reforma.
A votação não pode passar de março, não é? Porque aí entra no calendário eleitoral.
Está marcada a data [19 de fevereiro]. Se nesta data não for, aí vamos pensar outras agendas para que a gente possa ajudar a reorganizar o Brasil com uma situação melhor para o próximo presidente.
Ou seja, se não votar 19 de fevereiro, o sr. acha que dificilmente vota ainda em 2018?
Se a gente não conseguir condições para votar ali, 19, 20 de fevereiro, é impossível. Aí é melhor ir para outro tema.
Qual é o plano B?
Não tem plano B. O que você tem que olhar é o que, do ponto de vista do equilíbrio fiscal, pode ser feito. Mas não quero tratar desses pontos porque vou estar jogando a toalha. Então, só depois do dia 19 de fevereiro.
Se o caso JBS se não tivesse ocorrido, a reforma teria passado?
Tenho certeza. Aí eu tenho certeza de que no dia 5 ou 6 de junho a gente teria aprovado a reforma da Previdência.
O sr. acha que a antecipação do anúncio do adiamento pelo senador Jucá prejudicou?
Todo mundo sabia que não ia ter votação na semana que vem [nesta semana]. Não seria correto culpar o senador por um problema que não foi dele. Ele não é culpado por não construirmos as condições para ter 308 votos.
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