Anos eleitorais, como se sabe, tendem a encurtar o tempo útil de trabalho de governo e Congresso. Tratando-se de uma gestão já por si reduzida e de um pleito que se afigura especialmente complexo, o risco de tal efeito aumenta.

Não obstante, lideranças do governismo dedicaram o início de 2018 a promover picuinhas e embates improdutivos, que podem prenunciar novas dificuldades para remover os empecilhos à estabilidade econômica e social do país.

O desarranjo político ficou evidente no modo como Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, e Rodrigo Maia, presidente da Câmara, desentenderam-se em temas cruciais para a administração federal —e mais por politicagem canhestra do que por divergência programática.

As duas autoridades puseram-se a discutir, por exemplo, o provável estouro do limite legal de endividamento extra, a chamada “regra de ouro”.

O vazamento inepto de tais tratativas causou má impressão entre os observadores da economia e os credores do governo. Reforçou a ideia de progressivo relaxamento nas contas públicas.

De imediato, Maia e Meirelles procuraram se isentar de responsabilidades pela discussão, aparentemente apreensivos com eventuais danos à imagem de possíveis candidatos à Presidência.

Preocupante, de fato, foi o comportamento nada presidencial do ministro e do parlamentar, que conduziram de modo descuidado um assunto sensível e evidenciaram falta de coesão.

A atitude um tanto constrangedora repetiu-se quando a nota de crédito do Brasil foi rebaixada. Maia e Meirelles voltaram a trocar acusações juvenis de culpa pela degradação financeira do país.

O novo secretário de Governo, Carlos Marun, também ofereceu sua contribuição ao anunciar, sem pejo, que o Planalto trocava empréstimos da Caixa Econômica Federal por votos no Congresso.

Note-se que o Executivo, no momento, enfrenta problemas até para nomear um ministro do Trabalho —e outras pastas em breve perderão seus titulares, em debandada para disputar o pleito deste ano.

O evento econômico decisivo de 2018 é a votação da reforma da Previdência, prevista para fevereiro. O envolvimento precoce e desastrado de autoridades da República em questões da agenda eleitoral é mais uma ameaça à já incerta aprovação da proposta.

Completar o remendo fiscal e aprovar reformas é a razão de ser deste último ano de gestão do presidente Michel Temer.

O risco é que a instabilidade que se observa no próprio núcleo do poder contribua para erodir ainda mais a confiança e reduzir a vida útil do governo.

Folha de S.Paulo – EDITORIAL

 

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