Por Cristiana Lôbo

A condenação de Lula despertou entre políticos investigados na Lava Jato aquele sentimento “posso ser ele amanhã”, uma vez que são quase cem políticos que respondem a inquéritos no STF.

“Se Lula, que tem liderança, apoio popular e já foi presidente foi condenado e com pena ampliada, imagine outros que estão na fila nos tribunais superiores”, avaliou um experiente parlamentar.

É por esta razão que um silêncio se impôs depois do resultado proclamado no TRF-4 e poucos comentam a decisão. Nos bastidores, no entanto, movimentos são previsíveis e um deles pode entrar na agenda do STF este ano: a revisão do dispositivo que permite a prisão do condenado em segunda instância – caso de Lula.

Outro aspecto importante da condenação de Lula é a articulação dos partidos para as eleições deste ano. Muitos partidos cogitavam repetir aliança com o PT. Lula até chegou a dizer que iria “perdoar golpistas” – ou seja, poderia se reaproximar de partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Roussef. Agora, esse movimento não existe mais.

Ainda que a estratégia do PT seja, até aqui, insistir na candidatura do ex-presidente, a condenação em segunda instância enquadra Lula na Lei da Ficha Limpa e põe em risco sua candidatura.

Outros partidos do centro dificilmente vão amarrar seus destinos ao de Lula. Seria um risco muito grande. Mais do que isso: lideranças do PMDB se aproximavam de Lula, como Renan Calheiros, Eunício Oliveira, Jader Barbalho e outros. Depois da condenação, eles terão de esperar para saber até quando Lula poderá fazer campanha, e se poderá.

A leitura de políticos de centro é a de que a saída de Lula da disputa afeta as pretensões de Bolsonaro. “Bolsonaro vive da polarização com o PT”, disse um desses líderes.

Ao mesmo tempo, sem Lula, os partidos de esquerda buscarão seus espaços e o resultado deve ser uma pulverização de candidaturas: Marina Silva, da Rede; Boulos ou Plínio de Arruda Sampaio Júnior pelo PSOL; Ciro Gomes pelo PDT; além de um candidato do PSB, que pode ser Joaquim Barbosa.

Ainda nesta leitura, o espaço do centro fica aberto tanto para Alckmin, como um candidato “da política”; Rodrigo Maia, na tentativa de ser um nome novo, mas sem muito fôlego para levar adiante esse papel; e se for alguém de fora da política, Luciano Huck que, mesmo depois de ter divulgado artigo saindo da disputa, “só pensa nisso”, segundo um político que tem conversado com ele. “Huck passou férias em Abu- Dhabi, mas sintonizado com tudo o que se passa por aqui”, completou.

 

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