Por Pedro do Coutto
Os professores e cientistas políticos Carlos Pereira, Rafael Cortez, Bernardo Sori, Ricardo Caldas e Glauco Peres, opinam na revista Veja que chegou às bancas sobre o futuro da esquerda no Brasil após o desabamento da liderança de Luiz Inácio Lula da Silva. Em sentido diverso, o sociólogo Demetri Magnoli , Folha de São Paulo deste sábado, destaca contradições do ex-presidente deslocando-se de um plano a outro no palco partidário, não deixando assim uma estrada definida para o Partido dos Trabalhadores. O artigo de Magnoli projeta o PT diante de uma esfinge.
Vamos por partes. Os cientistas políticos, a meu ver, procuram a exatidão de uma ideia, frase usada por Simone de Bouvoir em uma de suas obras. É difícil encontrar. Difícil encontrar porque os cinco mestres não lograram estabelecer um alvo com a nitidez indispensável. Para começo de conversa, Lula nunca foi de esquerda, de fato. Só nas palavras e na mágica que utilizou ao longo de sua ascensão ao poder. Assim, as chamadas esquerdas não se encontram órfãs de uma liderança. Ao contrário devem partir para novos caminhos, cujo conteúdo corresponda às afirmações.
TAREFA DIFÍCIL – Ser de esquerda, no mundo de hoje, é tarefa muito difícil. As duas principais potências comunistas do planeta, Rússia e China há várias décadas ingressaram e multiplicaram o capitalismo. Exceções, na face da terra a Coreia do Norte e Cuba. Mas esta é outra questão.
Não se deve confundir o reformismo voltado para estruturas sociais de redistribuição de renda e as tendências esquerdizantes. Afinal o que é ser de esquerda? Não é mais a ideia de estatizar os meios de produção substituindo a iniciativa privada pelo controle estatal. Pode se considerar, por exemplo, a enciclica Mater et Magistra do Papa João XXIII como um lançamento de uma plataforma mundial baseada em reformas. Mas não se pode dizer, como aconteceu na Itália, que o Vaticano poderia ter feito uma opção pelo esquerdismo. Chegou-se mesmo na Itália a se lançar uma piada que serviu de base para um ensaio de D. Fernando Bastos D’Avila.
APENAS DE CENTRO – A discussão era a seguinte: em latim, Mater et Magistra é um documento da sinistra, mas em italiano Madre et Maestra passou a ser um documento da destra. Fernando Bastos D’Avila esclareceu a propósito que não era nem uma coisa nem outra. A Encíclica era um documento do centro. Até porque o centro é uma faixa não é apenas um ponto, Entretanto, convencionou-se atribuir aos que defendem reformas sociais, baseadas no trabalho e no salário, a conotação de esquerdista.
Se defender reformas é sinônimo de esquerda, mais uma razão para Lula não figurar à esquerda do poder. Já que nos seus governos agiu para manter a concentração de renda, ponto nevrálgico da questão e do processo humano.
O déficit que se destaca hoje na Previdência Social, reportagem de Geralda Doca e Débora Bergamasco, O Globo do dia 23, terça-feira, é uma consequência do predomínio do conservadorismo. Reduziram-se salários, mas não se cobraram as dívidas. Aliás, nem Henrique Meirelles cobra agora as dívidas de empresas para com o INSS.
CORES DA ESQUERDA – Para encerrar este texto, acentuo que as várias cores da esquerda, no Brasil, estão à procura de uma tela em que possam se projetar. Contra corrupção, que é concentradora do universo financeiro, a favor de uma escala justa de salários, e a favor do pleno emprego. Algo assim como procedeu Barack Obama em seus mandatos na Casa Branca. Aqui, em nosso país, na estrada que leva ao Planalto está faltando um candidato que assuma de fato o conteúdo de um programa social e cristão.
Mas tem de ser de fato, não apenas nas palavras. As palavras o vento leva. O eleitor frustrado, tenta pegar seu voto de volta na urna eletrônica. Tarefa impossível. Afinal de contas a mágica é o oposto da lógica.
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