Com fama de cumpridor de missões disciplinado, o general Walter Souza Braga Netto ganhou na noite de quinta-feira (15) o que um conhecido seu qualificou de o maior abacaxi da sua carreira: o cargo de interventor federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
Braga Netto estava de férias quando recebeu a notícia. No dia seguinte, estava ao lado de seus superiores civis em Brasília no anúncio do decreto da intervenção.
O mesmo amigo aponta que ele parecia desconfortável pela rapidez com que os fatos se sucederam, e as declarações curtas que deu explicitando que iria trabalhar num plano operacional a partir de agora reforçaram essa impressão. Disse que há muita mídia na avaliação da gravidade da situação.
Não que Braga Netto esteja despreparado ou não tenha ideia do que pode ser feito: ele é visto no Exército como um dos maiores conhecedores da realidade operacional fluminense. O Ministério da Defesa acumulou planilhas e mapas alimentados com dados estatísticos da criminalidade no Rio de Janeiro.
Mas o general Braga Netto também já disse ver com reservas o emprego de militares em operações urbanas, um sentimento muito comum entre oficiais superiores.
Isso ocorreu durante uma palestra em 28 de agosto de 2017 no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio. Na apresentação, apontou os itens que o preocupavam na GLOs (Operações de Garantia da Lei e da Ordem): insegurança jurídica e danos psicológicos à tropa.
Mas fez uma defesa dos resultados da ações, que considera inevitáveis dado o quadro de degradação da segurança nos Estados.
Comandante militar do Leste, ele desenvolveu boa parte de sua carreira no Rio, notadamente nas antigas unidades blindadas que acabaram redistribuídas para o Rio Grande Sul. Mineiro de Belo Horizonte, ele entrou na Academia das Agulhas Negras em 1975, somando assim 43 anos de serviço militar.
Após um giro por adidâncias militares na Polônia (2005-6) e nos Estados Unidos (2012), o general retornou à capital fluminense para ser diretor da Divisão de Educação Superior Militar em 2013.
Doutor em política e estratégia, ele voltou a campo em agosto daquele ano, quando foi designado para supervisionar os trabalhos de segurança durante a Olimpíada do Rio. A experiência no exterior, acrescida de um período como observador militar das Nações Unidas no Timor Leste, facilitou o contato com forças estrangeiras.
Segundo um ex-integrante do então governo de plantão, o de Sérgio Cabral (MDB), o general sempre foi flexível no trato com autoridades civis, tornando boa a interlocução durante os jogos em 2016.
Foi feito comandante militar do Leste, responsável por quase 30 mil soldados no Rio e outros 20 mil em Minas e Espírito Santo, dias antes da abertura do evento esportivo.
General de Exército, quatro estrelas, está no topo da carreira ativa. Comandou diversas operações no Rio. Algumas polêmicas pelo impacto na população civil, como a realizada na Rocinha no fim do ano passado.
Braga Netto, que completa 61 anos no próximo dia 11, viu a violência que combate de perto na família. Um irmão seu, o tenente da Marinha Ricardo, foi morto em um assalto perto da ponte Rio-Niterói em 1984, conforme revelado pelo site G1 na segunda (19).
Segundo um conhecido seu, é difícil avaliar o peso do episódio na disposição tática do general, já que ele é considerado extremamente reservado fora da família é casado e tem dois filhos.
A experiência como chefe do setor de inteligência do Comando Militar do Leste também reforça a imagem, e, segundo esse mesmo amigo, deverá balizar o plano para descascar o proverbial abacaxi que lhe foi confiado pelo governo de Michel Temer (MDB).
RAIO-X
Nascimento
Belo Horizonte, 1957
Formação
No Exército desde 1975, foi nomeado general em 2009
Principais cargos
Adido militar na Polônia e nos EUA, supervisor de segurança da Olimpíada-2016, comandante da 1ª Região Militar e comandante militar do Leste desde 2016
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