Via Folha de São Paulo
O ex-presidente Lula afirmou, hoje, em depoimento à Justiça Federal que o país vive um momento de “denuncismo” e que está “cansado de mentiras”. Esta foi a primeira declaração pública do petista desde que foi preso há quase dois meses.
Ele depôs como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) na ação penal que apura suposto pagamento de propina a membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016.
“Lamento que venha uma denúncia de corrupção de compra de delegado [do COI] oito anos depois. Não sei quem fez a denúncia, não quero saber. Não conheço. Como estamos vivendo num momento de denuncismo, em que muita gente…”, disse, antes de ser interrompido pelo juiz Marcelo Bretas.
Ao longo do depoimento, o magistrado evitou permitir que Lula fizesse discursos de ataque à Justiça. Logo no início do depoimento, Bretas fez o comunicado de praxe em que avisa testemunhas de que ela está obrigada a falar a verdade.
“O meu compromisso é com a verdade. Não acredito que hoje no Brasil tenha um brasileiro que anda em busca da verdade mais do que eu. Estou cansado de mentiras. Quero a verdade”, disse ele, sendo interrompido pela primeira vez por Bretas.
O magistrado, que se referiu ao ex-presidente como “senhor Luiz Inácio” ao longo da audiência, também prestou reverência ao ex-presidente ao fim do depoimento. Declarou que o petista era “uma pessoa importante para o Brasil” e comentou que esteve num comício de Lula na avenida Presidente Vargas.
“É relevante a sua história para todos nós. Para mim, inclusive, que aos 18, 17 anos estava aqui num comício na avenida Presidente Vargas com 1 milhão de pessoas. Vivíamos um momento diferente no país. Estava lá, usando boné e camiseta com o seu nome”, disse Bretas, em referência à eleição de 1989.
“Quando fizer um comício agora, eu vou chamar o senhor para participar”, respondeu Lula, para riso dos presentes à audiência.
Lula falou de dentro da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso desde abril. O petista vestia o mesmo terno e gravata que utilizou no dia da vitória da cidade brasileira em Copenhague.
Minutos antes do depoimento, Lula procurou demonstrar bom humor. “Estou bonito hein. Essa gravata é da conquista das Olimpíadas”, disse ele, ao se ver no vídeo.
“Carrego ela até ficar desmontada”, disse o ex-presidente sobre a gravata verde, amarela e azul-marinho.
Antes do depoimento gravado, Lula pôde falar com Bretas. O juiz arriscou um chiste neste momento. “Não fala mal de mim que eu estou ouvindo, hein”.
“Eu sei. Estou com microfone aqui na frente”, disse Lula.
O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) assistiu pessoalmente ao depoimento. Antes do início da audiência, o emedebista pôde conversar rapidamente com o ex-presidente para prestar condolências pela morte de dona Marisa Letícia, em fevereiro do ano passado.
“Estava preso quando dona Marisa faleceu. Presidente, meu abraço ao senhor e meus sentimentos pelo falecimento de dona Marisa. Um abraço meu, da Adriana e dos meus filhos”, disse. Cabral está preso desde novembro de 2016.
“Obrigado, Sérgio”, respondeu o petista.
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