O atentado de quinta-feira é o tipo de evento com peso específico para mudar o rumo de uma campanha eleitoral. Até chegar ao centro de Juiz de Fora, Jair Bolsonaro estava isolado no topo da disputa presidencial. Já há algum tempo estacionara no patamar de 20%, mas conservava ampla vantagem sobre os outros candidatos. Seu potencial de votos equivalia, praticamente, à soma dos adversários Marina Silva e Ciro Gomes, empatados em segundo lugar.
Mais notável, porém, era a dimensão da sua rejeição, acima de 40% —ou seja, o dobro da preferência eleitoral que possuía nas pesquisas Ibope e Datafolha.
Até então, o problema do candidato Bolsonaro era com o voto feminino. Ele moldou sua imagem num discurso arcaico, rudimentar e percebido como hostil às mulheres, a maioria (52%) no eleitorado. Conseguiu assim, pelo lado avesso, cristalizar na campanha presidencial o debate sobre a desigualdade de gênero no país.
Quando isso ficou evidente, os adversários iniciaram uma ofensiva anti-Bolsonaro focada no eleitorado feminino. Ele começou a perder em média 300 mil votos por dia, conforme pesquisas diárias que abastecem o PSDB de Geraldo Alckmin, do PT de Lula e do MDB de Henrique Meirelles.
No meio da tarde de ontem, Bolsonaro foi à esquina das ruas Rio Branco e Alfred, área preferida de políticos em campanha por causa da multidão em trânsito. Saiu amparado, exangue, vítima de uma facada confessada por Adélio Bispo de Oliveira, 40 anos, mineiro de Montes Claros, aparentemente maníaco de teorias conspiratórias.
Juiz de Fora tem histórico de conspirações políticas. Em 1964, abrigou as conversas dos conspiradores civis Carlos Lacerda e Magalhães Pinto. Dali partiu o general Olympio Mourão Filho com sua tropa. Seguiram-se 21 anos de ditadura militar — reverenciada por Bolsonaro.
A vitimização do candidato do PSL terá efeitos eleitorais. Por enquanto, a única certeza é que a ponta da faca esgrimida por um aluado levou a campanha para um novo rumo. Imprevisível.
O Globo
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