Por André Singer – Folha de S.Paulo

Os índices disponíveis sobre o atentado sofrido por Jair Bolsonaro(PSL) na quinta-feira (6) em Juiz de Fora apontam para um gesto de insanidade mental por parte do agressor. Todas as forças relevantes do país rejeitaram com veemência o ato torpe, solidarizando-se com o atingido.

Ainda que sem conteúdo político, no sentido específico do termo, o dramático gesto de Adelio Bispo de Oliveira poderá mudar o rumo da campanha que se iniciava. Embora seja difícil prever o que vem pela frente, é plausível que a breve janela de racionalidade aberta pelo aumento da rejeição a Bolsonaro se feche com a natural simpatia que toda vítima produz.

O imediato recuo de Geraldo Alckmin (PSDB), que buscava desconstruir no horário eleitoral a imagem do capitão reformado, seria um sinal antecipado. Haveria igualmente mudanças de conteúdo. O debate econômico, que dominou as disputas presidenciais pós-redemocratização, pode tornar-se subtema de assunto maior: como reconstruir o país depois da crise geral vivida nos últimos anos? A sensação de que se chegou ao fundo do poço, para a qual o incêndio do Museu Nacional também contribuiu, pediria um discurso generalizante.

Posto no centro da cena, o bolsonarismo dispôs da primeira fala na nova fase. Os bolsonaristas não perderam tempo: pouco depois de operado, o candidato gravou um vídeo aos eleitores. O acento religioso trazido pelo senador e pastor Magno Malta (PR-ES) conota perfeitamente o sentido conservador da produção.

Por outro lado, a centralidade adquirida por Bolsonaro disputa com a de Lula, o qual conseguiu manter-se à tona apesar de preso há cinco meses.  Mas, talvez, sendo o antipetismo o principal mote do deputado de ultradireita, os holofotes acesos sobre ele acabem por iluminar igualmente o seu objeto de ódio.

A polarização entre lulismo e bolsonarismo, um dos cenários possíveis desde o início, ganharia, então, novas tinturas.  Lula tem à mão uma cartada, com a provável oficialização de Fernando Haddad na próxima terça (11) como candidato a presidente da República, uma vez que a postulação do próprio Lula foi impugnadapelo TSE na madrugada do último dia 1º.

Embora prevista há muito tempo, a decisão a ser tomada pelo ex-presidente em Curitiba quem sabe soe como resposta à nova conjuntura, marcada pelo trauma do esfaqueamento.

Para ela, Lula terá que achar uma nota ao mesmo tempo respeitosa com aquele que passou perto da morte e clara no que respeita às diferenças futuras. Se conseguir, o diálogo entre os dois polos resultantes do impeachment de 2016 quiçá dê o tom das três semanas que restarão até o primeiro turno.

 

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