Vera Rosa e Pedro Venceslau / Estadão
A campanha do ex-governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB nas eleições 2018, tenta evitar uma debandada de aliados e quer reforçar a visibilidade do tucano em São Paulo nas três semanas que restam antes do primeiro turno. Ainda sem contar com o engajamento dos partidos do Centrão, Alckmin pretende investir no próprio quintal para evitar o triunfo do voto casado no candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e no nome tucano para o Palácio dos Bandeirantes, João Doria. A ideia é impedir a consolidação do chamado voto “bolsodoria” no maior colégio eleitoral do País.
Apesar de ter o maior tempo no horário eleitoral no rádio e na TV, Alckmin continua estagnado nas pesquisas. Oficialmente, integrantes do bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade pedem mudanças no tom da campanha, mas, nos bastidores, já procuram candidatos que consideram mais viáveis para o segundo turno.
EMERGÊNCIA – Os líderes do Centrão foram convocados pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), coordenador político da campanha, para uma reunião de emergência hoje na capital paulista. Porém, já há sinais de abandono na aliança tucana. O coordenador da campanha de Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olímpio (PSL-SP), disse nesta segunda-feira, 17, que líderes do Centrão estão se aproximando do presidenciável do PSL.
No Solidariedade, partido ligado à Força Sindical, a preferência é pelo candidato do PDT, Ciro Gomes. Já o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que concorre à reeleição, não esconde o apoio ao PT. Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no páreo por causa da Lei da Ficha Limpa, o senador pretende se juntar à campanha do petista Fernando Haddad. Alega, para tanto, questões regionais.
CRISTIANIZADO – Um dos integrantes do bloco disse ao Estado que, na prática, não há como desfazer a coligação com Alckmin. Mas observou que, mesmo nas fileiras do PSDB, o tucano está sendo “cristianizado”, termo usado na política para se referir a candidato abandonado por seus pares.
Embora considere “dificílima” a hipótese de o tucano deslanchar, a maior parte do Centrão acha que é preciso concentrar o ataque em Bolsonaro e pregar o voto útil com mais vigor, deixando a artilharia pesada contra Haddad para o final. Há, no entanto, quem defenda críticas já ao petista.
Na avaliação de integrantes do bloco ouvidos pelo Estado, além de desconstruir Bolsonaro, o ex-governador de São Paulo precisa destacar os riscos da volta do PT ao poder e se descolar do presidente Michel Temer, bastante impopular.
DORIA E FRANÇA – Em outra frente, a campanha vai tentar promover uma aproximação entre o governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição, e Doria. “Esse litígio entre o Doria e o França nos prejudica muito. Um dos nossos esforços será para reduzir as agressões entre eles e para que a campanha do Geraldo esteja mais presente em São Paulo”, disse o ex-secretário de Energia de São Paulo João Carlos Meirelles, conselheiro próximo de Alckmin.
Até o momento, as campanhas de França e Doria têm ignorado Alckmin na propaganda de rádio e TV. O ex-prefeito tem feito agendas pontuais com o ex-governador, mas sua campanha adotou um discurso com forte enfoque na segurança pública para atrair o eleitorado de Bolsonaro. Doria também tem poupado Bolsonaro em entrevistas e sabatinas.
LEIS MAIS DURAS – No comercial exibido nesta segunda-feira, o ex-prefeito defendeu a redução da maioridade penal e “leis mais duras”, além de blindar veículos da Polícia Militar. Na mais recente pesquisa Ibope sobre o cenário em São Paulo, Bolsonaro e Alckmin aparecem, em empate técnico na primeira colocação, com 23% e 18%, respectivamente, no limite da margem de erro.
No campo da estratégia, a avaliação da campanha de Alckmin é de que uma vaga no segundo turno será de Haddad e que é inevitável manter o foco em Bolsonaro. “A nossa percepção é que Haddad vai para o segundo turno. Já o voto em Bolsonaro não está cristalizado. É na última semana que isso ocorre”, disse Meirelles.
APOIO AO PT – Em Pernambuco, o PSDB compõe a aliança do senador e candidato ao governo Armando Monteiro (PTB), principal chapa de oposição ao governador Paulo Câmara (PSB), mas o petebista declarou voto em Lula, quando o ex-presidente, preso e condenado na Lava Jato, ainda figurava como presidenciável do PT. Monteiro reúne em sua chapa os deputados Bruno Araújo (PSDB) e Mendonça Filho (DEM), ambos de partidos que compõem o Centrão.
O coordenador da campanha presidencial de Geraldo Alckmin no Estado, Joaquim Neto, reconhece que falta apoio dos candidatos coligados ao partido para fazer campanha para o presidenciável tucano em nível regional. Ele atribui o movimento para “esconder Alckmin” à força do lulismo no Estado. “Por causa de Lula, o PT tem 60% das intenções de voto, o cara não quer atrelar o nome dele a nossa campanha. É uma luta desigual, mas no segundo turno todo mundo vai querer nos apoiar”, disse.
RACHA NO PP – No Rio Grande do Sul, a candidatura do presidenciável tucano enfrenta um racha no PP, partido da senadora Ana Amélia, que integra a chapa como candidata a vice-presidente. O candidato ao Senado pela sigla, deputado federal Luis Carlos Heinze, anunciou que irá apoiar o presidenciável Jair Bolsonaro. Heinze também afirmou que não subirá em palanques com Alckmin e que usará seu tempo de TV para apresentar seu voto e fazer campanha para Bolsonaro.
O tucano, no entanto, recebe apoio explícito dos candidatos aos governos do Paraná, Bahia e Minas. Na Bahia, o material de campanha do candidato ao governo José Ronaldo (DEM), cuja candidatura é coordenada por ACM Neto, um dos principais articuladores da aliança do tucano com o Centrão, tem utilizado com destaque a imagem do presidenciável tucano. Ronaldo tem 8% das intenções de votos, segundo pesquisa Ibope publicada em agosto.
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