Por Bernardo Mello Franco – O Globo
O capitão Jair Bolsonaro voltou a fazer campanha do leito do hospital. Num vídeo transmitido na internet, ele chorou e lançou suspeitas sobre a urna eletrônica. Em tom conspiratório, alegou que haveria um complô em curso para evitar sua eleição.
“A grande preocupação realmente não é perder no voto, é perder na fraude”, disse, sem apresentar qualquer indício de manipulação. Ele criticou os institutos de pesquisa, o PT, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, que já barrou duas tentativas de retorno ao voto impresso.
O discurso de Bolsonaro pode convencer seus seguidores mais fanáticos, mas tropeça na lógica. O Brasil adotou o voto eletrônico há 22 anos. Desde então, o deputado conquistou cinco mandatos consecutivos. Ao questionar a lisura da urna, ele põe em dúvida o sistema que sempre o elegeu.
O capitão também sugeriu uma conspiração entre o PT e o Tribunal Superior Eleitoral. Outra tese sem pé nem cabeça. A Corte acaba de frustrar o partido ao sepultar a candidatura do ex-presidente Lula. A decisão obrigou o petismo a substituir o líder das pesquisas por um aliado que aparecia em quinto lugar.
Esta não é a primeira vez que um presidenciável questiona a urna eletrônica. Dias depois da derrota em 2014, o senador Aécio Neves pediu ao TSE uma auditoria no sistema de votação. Um ano depois, o PSDB reconheceu que não havia indício de fraude. A ação do tucano era choro de perdedor.
Bolsonaro inovou ao questionar a urna antes da votação. O discurso sugere que ele já começou a buscar uma desculpa para justificar seu eventual fracasso no segundo turno. É uma atitude irresponsável, porque estimula uma revolta dos eleitores vencidos contra os vencedores.
A estabilidade da democracia depende do respeito aos resultados. Quem vence governa, quem perde vai para a oposição. Ao questionar o sistema, o capitão volta a se comportar como o dono da bola. O jogo só vale quando ele ganha.
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