O paradoxo salta aos olhos. Os dois candidatos com mais chances de chegar à Presidência são também os mais detestados, o que não apenas é sinal de encrenca para a próxima administração como também indica que estamos diante de uma anomalia eleitoral. Com efeito, parece ter havido uma antecipação do segundo turno, com Bolsonaro aglutinando os votos antipetistas, e Haddad amalgamando os sufrágios antibolsonaristas. O problema desse tipo de movimento é que ele esvazia os votos a favor que o cidadão quisesse dar.
Para este ano, já era. A regra de eleição para presidente é clara, antiga e não há nada de essencialmente errado no voto estratégico. A democracia, contudo, é uma obra em andamento e nada nos impede de discutir aperfeiçoamentos.
Existem vários sistemas de votação preferencial que evitam esse tipo de situação. Um deles é a contagem de Borda, à qual o colunista Marcelo Viana aludiu recentemente. Nela, o eleitor ordena os candidatos segundo sua preferência. O postulante que ficar em último lugar na lista recebe um ponto, o penúltimo, dois, e assim por diante. Aí é só somar as pontuações dadas por todos os eleitores.
É um pouco mais complicado que o sistema atual e, obviamente, só se torna prático com urnas eletrônicas. A vantagem é que o eleitor pode exprimir ao mesmo tempo o seu voto e o seu veto. Imaginemos que Marina, que desidratou ao longo da campanha, fosse a segunda opção da maioria. Num pleito à la Borda, ela estaria vivíssima na disputa, porque as rejeições a Bolsonaro e a Haddad seriam computadas.
Parece-me um sistema melhor, mas não devemos nutrir ilusões. Ele também tem seus pontos fracos. Aliás, a crer nas interpretações mais correntes do teorema da impossibilidade de Arrow, nenhum método de votação é justo e a própria ideia de escolha social sai chamuscada. Ainda assim, o bonito desse sistema é que, mesmo sem abrir mão do ódio, podemos votar por amor.
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo
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