Pedro do Coutto

Duas reportagens publicadas na edição de ontem da Folha de São Paulo, uma de Tássia Kastner e outra de Danielle Brant, focalizam a escala de endividamento da população brasileira, uma vez que os inadimplentes atingem praticamente 62 milhões de pessoas. São consumidores que se encontram com seus pagamentos atrasados há mais de três meses, incluindo os que estão em débito no campo do crédito rotativo e também no campo dos cartões de crédito. O crédito rotativo a que me refiro é aquele que tem origem no cheque especial.

Do total de endividados, 12% passaram do limite do cheque especial e 11% não quitaram as parcelas mensais de seus cartões de crédito.

JUROS ABUSIVOS – O panorama é muito grave porque os juros de 12% ao mês do cheque especial e 11% do refinanciamento dos cartões de crédito tornam  impossível. haver resgates. Afinal de contas, os salários nem de longe acompanham tal ritmo e, ainda por cima, tem que se levar em consideração o alto índice de desemprego que atinge a mão de obra ativa do país.

Aliás por falar em mão de obra ativa, percentualmente o grau de endividamento é superior a 1/3 dos brasileiros. Isso porque, se deixarmos a população de lado e nos concentrarmos na mão de obra ativa, vamos verificar que esta reúne 100 milhões de pessoas. Portanto, na verdade as dívidas atingem em números redondos 60% dos trabalhadores e trabalhadoras, uma vez que no total de 204 milhões d habitantes estão incluídas a população infantil, que consome mas não produz renda e aqueles de idade avançada que somente através do consumo podem ser incluídos como fazendo parte do produto interno bruto brasileiro.

DIFICULDADES – As duas reportagens da FSP por mim citadas focalizam igualmente a verdadeira batalha pela renegociação das dívidas com os bancos e financeiras. Embora a rede bancária esteja aceitando renegociar na base de juros que varia entre 2,5 a 3% ao mês, no lugar dos 11 e 12% do cheque especial e dos cartões de crédito, a taxa não é fácil de ser suportada pelos devedores e devedoras. Afinal de contas os bancos estão cobrando ao mês a inflação correspondente a um ano segundo a taxa do IBGE. Quase um ano, aliás. Isso se levarmos em conta o índice inflacionário deste ano que está previsto em 4%. Em 2017 a inflação oficial foi de 2,9%

Dentro desse panorama, torna-se difícil acreditar que o consumo deste final de 2018 possa se elevar ao ponto de influir na formação do PIB.

Pois para haver consumo são necessárias duas coisas: reajuste salarial pelo menos empatando com a inflação e queda relativa dos preços no mercado em geral. É mais difícil acreditar que os preços venham a ser reduzidos. Portanto, um enigma envolve a produção global e o mercado consumidor neste país.

 

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