Por Jamil Chade / Estadão
Terminou sem qualquer tipo de acordo a última rodada de negociações entre o Mercosul e a União Europeia. Na ausência de uma aproximação das posições entre os dois blocos, um eventual acordo fica adiado para 2019 e caberá ao governo de Jair Bolsonaro (PSL) tomar uma decisão sobre o destino do processo.
O fracasso na negociação frustrou a esperança do governo de Michel Temer de deixar o país com um tratado de dimensões importantes. Em 2017, o pacote esteve próximo de ser fechado, depois de 18 anos de negociações. Mas o Mercosul considerou que a UE não fez qualquer gesto significativo para abrir seu mercado.
HOUVE PRESSA – Com a eleição de Bolsonaro, a Comissão Europeia se mobilizou para tentar fechar um entendimento com o Mercosul antes do final do ano. Reuniões proliferaram e delegações dos dois lados do Atlântico foram enviadas para tentar encontrar uma aproximação.
Mas os objetivos de Bruxelas foram rapidamente frustrados, diante de uma pressão de governos como o da França, da Irlanda e de alguns outros do Leste Europeu, refratários a uma abertura de seus mercados para os bens agrícolas do Mercosul.
Também foi recebida como uma ducha de água fria o alerta que o presidente da França, Emmanuel Macron, lançou durante o G-20, apontando que apenas assinaria um acordo com o Mercosul se Bolsonaro seguisse no Acordo Climático de Paris.
ÚLTIMA CHANCE – Mesmo assim, as delegações dos dois blocos decidiram tentar uma “última chance” nesta semana em Montevidéu. Mas, segundo o Mercosul, os europeus uma vez mais não apresentaram propostas de abertura suficientes. Se houvesse uma sinalização positiva, os grupos técnicos anunciariam uma reunião ministerial para, então, realizar a fase final das concessões. Mas nada disso ocorreu.
Em meio ao processo nesta semana no Uruguai, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se mostrou preocupada e alertou, no Parlamento em Berlim, que o “tempo estava se esgotando” para um acordo com o Mercosul. Para ela, um processo sob a gestão de Bolsonaro e do chanceler Ernesto Araújo seria mais difícil.
A cobrança de Merkel, porém, foi interpretada como um alerta interno na Europa. Berlim tentou pressionar os países mais protecionistas a ceder, insinuando que, se não houvesse um acordo agora, em 2019 essa possibilidade seria ainda mais distante.
DERROTA LIBERAL – Mas nem isso funcionou. Em Bruxelas, fontes admitiram ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que o fracasso foi considerado como uma “derrota” para os planos da ala mais liberal do bloco. Com Bolsonaro no poder, o que predomina é uma incerteza sobre o papel que Brasília dará aos europeus, principalmente depois de todos os sinais que Araújo apontou de privilegiar uma relação com os EUA de Donald Trump.
No Itamaraty, a orientação é de que, no início de 2019, um novo contato seria estabelecido entre Brasília e Bruxelas para avaliar quais seriam os próximos passos. Mas experientes negociadores admitiram que, com um novo governo no poder, alguns meses serão necessários para que a nova administração possa conduzir sua política externa e fixar seus objetivos comerciais
O Broadcast apurou que a diplomacia argentina também saiu frustrada das conversas, admitindo que, em 2019, um acordo sob a gestão de Bolsonaro poderia estar ainda mais distante. Mauricio Macri, presidente da Argentina, havia estabelecido a aproximação com a UE como uma de suas prioridades de política externa.
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