O ABC de Jesuíno Brilhante reeditado pela Queima-Bucha
(*) José Romero Araújo Cardoso
Em seu célebre livro por título Cancioneiro do Norte, Rodrigues de Carvalho publicou o ABC de Jesuíno Brilhante, ênfase repetida por Luís da Câmara Cascudo em opúsculo intitulado Flor de Romances Trágicos.
Verdadeira pérola da cultura popular, o ABC de Jesuíno Brilhante não foi identificado, no que diz respeito ao verdadeiro autor, por nenhum dos estudiosos que se desbruçaram sobre o gentleman dos sertões.
Jesuíno Alves de Melo Calado tornou-se uma legenda na história do cangaço nordestino devido a postura ética e honrada que sempre o acompanhou, quando o mesmo ao, se tornar chefe de bando, ficou conhecido devido aos avisos enfáticos referentes à intolerância no que diz respeito à necessária postura respeitadora dos homens do seu bando.
Todos, incondicionalmente, eram obrigado a jurar respeitar as famílias, pobres e desvalidos quando da inserção na vida bandoleira ao lado de Jesuíno, cujo objetivo intuia vingar a honra maculada do clã radicado em Patu, Estado do Rio Grande do Norte.
Vários episódios renderam notoriedade espetacular ao grupo comandado pelo cangaceiro romântico. Um destes diz respeito ao formidável ataque à cadeia da Cidade de Pombal, Estado da Paraíba, no ano de 1874, cujo objetivo era soltar parentes ali aprisionados.
Há destaque ainda à forma justa que Jesuíno implementou em suas ações, salvando donzelas e matronas de situações vexatórias, e ainda quando da distribuição de víveres enviados pelo governo Imperial a fim de minimizar os efeitos dramáticos da terrível seca de 1877-1879.
Outro feito digno de registro foi o ataque à Cidade de Martins, em 1876, cujo ABC resgatado por Rodrigues de Carvalho enfoca integralmente. Narrado em primeira pessoa, os versos de anônimo sertanejo referem-se à estadia inicialmente pacífica de Jesuíno em Martins, quando este em companhia de asseclas procuravam por cidadão de nome Porfírio.
Não o encontrando, acabaram enfrentando o poder coercitivo do Estado que almejava alcançá-los, sem sucesso, visto que a astúcia dos corajosos bandoleiros se responsabilizou pelo sucesso frente ao cerco comandado pelo alferes João Francisco.
Jesuíno e o bando vararam a tentativa de capturá-los, furando as paredes das casas da cidade serrana e, cantando a corujinha, ganharam as matas da zona de exceção do sertão potiguar.
Todos os biógrafos de Jesuíno Brilhante, incluindo entre esses José Gregório e o martinense Raimundo Nonato, são unânimes em afirmar que a retidão de caráter era a maior virtude do cangaceiro nascido no longínquo ano de 1844, na fazenda Tuiuiu. Jesuíno foi assassinado no final de 1879, na localidade Riacho dos Porcos, município de Brejo do Cruz, Estado da Paraíba, vítima de tocaia prepara por acérrimo inimigo conhecido por Preto Limão.
Mantendo os critérios referentes à divulgação da autêntica Literatura Popular Nordestina, a Editora Queima-Bucha reeditou em outubro de 2005 o ABC de Jesuíno Brilhante, cujo trabalho de capa ficou a cargo do célebre poeta popular Arievaldo Viana. Esse folheto, de número sessenta, integra a Coleção dedicada à Literatura de Cordel mantida pela dinâmica e clarividente lucidez de Gustavo Luz, editor mossoroense que vem se transformando no maior divulgador da cultura nordestina.
Livros, cordéis, peças e filme, este último fruto do esforço e da obstinação do ipanguaçuense William Cobbett, enfocam o o bandoleiro romântico cujos feitos épicos se responsabilizarm por sua imortalização através de gerações, marcando indelevelmente o imaginário sertanejo devido sua vinculação estreita com seu povo e com os valores nobres e honrados que perdem espaço ao longo das décadas que separam sua ação cronológica relacionada com a atual conjuntura.
Reeditar o ABC de Jesuíno Brilhante foi uma das mais louváveis idéias de Gustavo Luz, pois a presença marcante do Robin Hood dos sertões nordestino na história regional deve ser perpetuada através dos tempos, como forma do povo do semi-árido render as devidas homenagens àquele que se distinguiu formidavelmente dos seus sucessores em razão da serenidade e objetividade que embasaram suas lutas e ações fantásticas, as quais podem ser compreendidas como épicas na expressão literal do termo.
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
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