De plantão na sua trincheira das redes antissociais em pleno Carnaval, o vereador Carlos Bolsonaro adotou uma inusitada tática de contra-ataque no Caso Coaf. Não podendo apontar virtudes do senador Flávio Bolsonaro, cuidou de realçar que seu irmão é apenas parte de um todo. Iguala-se em abjeção a outros políticos que ardem no caldeirão da Assembleia Legislativa do Rio. Carlos como que anulou qualquer pretensão de Flávio de alegar que é diferente ao se queixar do suposto tratamento privilegiado que a imprensa dedica aos outros encrencados.
“Por que será que maior parte da mídia e canalh(x)s citam A, mas se esquecem de mencionar B, C ou D? Principalmente quando o assunto é PSOL e PT! Curioso, não?”, rosnou o ‘Pitbull’, como Carlos é chamado pelo pai Jair Bolsonaro. “Todos podem ser inocentes ou não, mas a balança para variar sempre tem dois pesos e duas medidas ao falar de PT e aliados.”
Pelas contas do Coaf, 75 servidores da Assembleia Legislativa do Rio têm contas bancárias carunchadas. Juntos, movimentaram R$ 207 milhões em um ano. Trabalharam em 21 gabinetes de deputados estaduais de 14 partidos: Avante, DEM, MDB, PDT, PHS, PRB, PSB, PSC, PSD, PSDB, PSL, PSOL, PT e Solidariedade. Carlos Bolsonaro sabe de tudo isso porque a mídia, tão criticada por ele, cumpriu a obrigação de divulgar —com nomes, cifras e partidos.
A despeito do desejo de Carlos de nivelar o irmão aos demais, alguns detalhes impedem a imprensa de integrar Flávio à baixeza geral de mais um escândalo. Afora o fato de o agora senador ser o primogênito do presidente da República, seu ex-assessor Fabrício Queiroz borrifou pelo menos R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Marido de Michelle, o pai de Carlos e Flávio chegou ao Planalto enrolado na bandeira da moralidade. O pedaço do eleitorado que acreditou na pregação moralizadora que levou Jair Bolsonaro ao Planalto imaginava que o presidente e sua prole inundariam o país de bons exemplos. Os fatos atrapalham. A realidade estraga tudo.
Ao reivindicar que a imprensa trate o irmão Flávio como um suspeito qualquer, Carlos como que destrói a diferença heroica que seu pai dizia representar. Com uma ingenuidade própria das almas iradas, o ‘Pitibull’ não se dá conta da mensagem que passa. Ora, se nem o ‘Zero Dois’ valoriza a superioridade moral presumida dos Bolsonaro como algo digno de diferenciação, quem haverá de valorizar?
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