Por Carlos Newton

Alega-se que não se deve criticar o governo, porque Bolsonaro só está no poder há seis meses. Mas com tantas demissões e novas nomeações, fica claro que há algo de errado, pois o governo não tem a menor estabilidade e transmite aos primeiros escalões da República um clima de permanente insegurança, com o afastamento de importantes auxiliares sendo anunciado pela imprensa, um procedimento nada democrático e sem justificativa.

É impressionante o troca-troca de demissões e nomeações. Jamais se viu esse fenômeno na História da República. Certamente é por isso que há uma sensação de que o governo na verdade ainda nem começou.

AMADORISMO – É uma situação que revela um surpreendente amadorismo, pois o governo demonstra enorme dificuldade em encontrar executivos competentes para ocupar importantes funções na República. O assunto é preocupante, porque desse jeito fica difícil o governo tirar o país da crise.

É um verdadeiro festival de troca-troca, que começou dia 10 de janeiro na Agência de Promoção das Exportações (Apex), do Ministério de Relações Exteriores, onde já ocorreram duas mudanças. O presidente Jair Bolsonaro demitiu Alecxandro Carreiro, cujo mandato durou apenas sete dias e neste curto períododemitiu 17 funcionários e nomeou 11.

Assumiu a presidência da Apex o embaixador Mário Vilalva, que acabou demitido em 9 de abril após desentendimentos com diretores que tinham o apoio do ministro Ernesto Araújo. Foi então nomeado o contra-almirante da Marinha Sergio Ricardo Segovia Barbosa, que tocou o barco em frente e ainda não naufragou.

CASO BEBIANNO – Outra demissão importante ocorreu em 18 de fevereiro, quando o advogado Gustavo Bebianno foi exonerado da Secretaria-Geral da Presidência. Era acusado de supostas irregularidades na sua gestão à frente do caixa eleitoral do PSL e a crise chegou ao clímax quando ele foi chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro, o Zero Dois.

Na verdade, Bebianno nada tinha feito de errado, apenas não aceitava a ingerência dos filhos de Bolsonaro no governo. O presidente se arrependeu, ofereceu-lhe uma diretoria no Itaipu ou as embaixadas da Itália ou Portugal, a escolher, mas Bebianno teve a dignidade de não aceitar.

Depois, em março, a ex-deputada Teté Bezerra teve de pedir exoneração do cargo de presidente da Embratur, por ter promovido um jantar na empresa que teria custado R$ 290 mil. O substituto Paulo Roberto Senise ficou menos de dez dias e desde então a Embratur é presidida por Gilson Guimarães Neto, um misto de empresário e sanfoneiro da banda de forró “Brucelose”, nomeado porque atuou na campanha de Bolsonaro.

CAOS NO MEC – Em 8 de abril, o olavista Ricardo Vélez Rodríguez foi demitido do Ministério da Educação. O anúncio foi feito pelo Twitter. Decisões polêmicas, como a revisão dos livros didáticos sobre a ditadura militar e a orientação para que as escolas filmassem os alunos cantando o hino, em meio a uma guerra entre olavistas, militares e quadros técnicos no Ministério da Educação levou a uma sucessão de baixas.

Antes da demissão, o então ministro Vélez exonerou seu próprio secretário-executivo, Luiz Tozi, e o cargo foi assumido pelo militar Ricardo Machado Vieira, que saiu com a chegada do atual ministro, Abraham Weintraub. O novo titular da pasta exonerou cinco secretários setoriais trazidos pelo ex-ministro Vélez.

No Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC, já houve três presidentes. O primeiro, Marcus Vinicius Rodrigues, foi demitido pelo então ministro Vélez após suspender a avaliação da alfabetização este ano.

TROCA-TROCA – O Inep é responsável pelos exames educacionais do país, como o Enem. O cargo de presidente ficou vago por um mês, até que assumiu Elmer Vicenzi, delegado da Polícia Federal, já na gestão de Weintraub. Mas não durou 20 dias, sendo substituído pelo atual presidente, Alexandre Lopes.

Ex-deputada pelo PRB da Bahia, a evangélica Eronildes Vasconcelos de Carvalho foi demitida em maio da Secretaria de Proteção da Mulher, pela ministra Damares Alves, dois meses depois de assumir o cargo. A ministra alegou “improdutividade”, mas segundo O Globo, pessoas próximas à ex-deputada falam em retaliação.

Já o presidente da Fundação Nacional do Índio, coronel Franklimberg de Freitas, perdeu o cargo por pressão da bancada ruralista. A ordem também foi dada pela ministra Damares Alves. Dias antes, ao se reunir com Sergio Moro, ele disse que ficaria no cargo. A Funai, ainda sob tutela de Damares, será devolvida ao Ministério da Justiça.

COMUNICAÇÃO SOCIAL – Floriano Barbosa, que chegou à Secretaria de Comunicação após trabalhar com Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, foi substituído por baixo desempenho na função. Ele era responsável pelos contratos de publicidade do Executivo. Barbosa disse que pediu para deixar o cargo por conta de “ataques” recebidos. Foi substituído pelo empresário Fábio Wajngarten, também ligado aos filhos de Bolsonaro.

No Ministério da Cidadania, o general Marco Aurélio Vieira discordou do ministro Osmar Terra (Cidadania) quanto à nomeação de alguns políticos na sua área e acabou demitido da Secretaria de Esporte. Vieira teria atuado contra a vontade do Planalto e do próprio Terram ao estimular parlamentares a recriarem o Ministério do Esporte.

Na Casa Civil, o ex-deputado Carlos Manato (PSL-ES) foi demitido da Secretaria Especial que fazia articulação política com a Câmara. O substituto, ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), é amigo do ministro Onyx Lorenzoni, que centralizou a articulação política até o fim da reforma da presidência, quando a missão será assumida pelo general Luiz Eduardo Ramos, futuro Secretário-Geral da Presidência, que só assume em julho.

PELOS JORNAIS – Nos casos de demissões pelos jornais, Marcos Barbosa Pinto entregou sua carta de renúncia após Jair Bolsonaro exigir que o presidente do BNDES, Joaquim Levy, o afastasse da diretoria de Mercado e Capitais.

Pressionado publicamente, Levy renunciou à presidência do BNDES. Na véspera, o presidente havia dito que a cabeça do economista estava “a prêmio há algum tempo” e teria se irritado com a nomeação de “gente suspeita”.

Também em junho, Bolsonaro demitiu no dia 13 o general Santos Cruz da Secretaria de Governo. A decisão foi atribuída por um auxiliar do Planalto a uma “falta de alinhamento político-ideológico” e embates com outros integrantes do governo. Na verdade, ele foi alvo de Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e dos olavistas do governo.

CASO DOS CORREIOS – Na sexta-feira passada, dia 14, Bolsonaro  anunciou a demissão do presidente dos Correios, general Juarez Aparecido de Paula Cunha, por ter ido à Câmara, a convite de partidos da oposição. Bolsonaro disse que o general se comportou “como um sindicalista”, ao posar para fotos com deputados do PT e do PSOL.

E houve outra mudança no primeiro escalao: substituto de Bebianno na Secretaria-Geral da Presidência, o general Floriano Peixoto agora deixa o cargo para presidir e privatizar os Correios. É o quarto ministro do governo a ser substituído.

E neste sábado Bolsonaro anunciou a nomeação do major da PM  Jorge Antonio de Oliveira Francisco para secretário-geral da Presidência.

 

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