Por Mário Bittencourt / O Globo
Em meio à polêmica sobre a “paternidade” do Aeroporto Glauber Rocha, o presidente Jair Bolsonaro inaugurou as instalações do terminal nesta terça-feira, em Vitória da Conquista, na Bahia, ainda com obras inacabadas. Na segunda visita ao Nordeste desde a posse, o chefe do Planalto foi recebido pelo prefeito da cidade, Herzem Gusmão (MDB), e pelo prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), na pista do terminal, construído com verba dos governos federal e estadual. A respeito de outra polêmica com nordestinos — Bolsonaro foi gravado chamando governadores do Nordeste “de paraíbas” —, ao final de seu discurso, o presidente disse que “ama o Nordeste” e que “somos todos paraíbas”.
A dois dias do início previsto da operação, o novo aeroporto, no Sudoeste da Bahia, está com as obras do entorno, na rotatória de acesso, inacabadas. Vereadores da cidade estiveram nesta segunda-feira no local e cobraram agilidade no andar das obras.
EM OBRAS – Nos arredores do aeroporto, ainda há diversas máquinas e homens trabalhando para que as obras da rotatória, às margens da BR-116, fiquem prontas. O trabalho está sendo feito pela empresa Via Bahia, concessionária da rodovia, que não informou ao Globo quando elas serão concluídas.
Inicialmente o terminal vai absorver voos que operam no antigo aeroporto, o Pedro Otacílio de Figueiredo, com destino a São Paulo e Minas Gerais. Segundo a Secretaria Estadual de Infraestrutura, o investimento na obra foi de R$ 145 milhões. O Ministério da Infraestrutura afirma que a “obra foi viabilizada a partir de dois convênios, no valor de R$ 79,9 milhões”.
PARCEIRO ACM – Durante o seu discurso na inauguração, o presidente profetizou que ACM Neto, a quem chamou de “parceiro de longa data”, ocupará a Presidência da República um dia.
“Eu conheci o velho ACM, um homem forte, combativo, extremamente preocupado para com seu povo da Bahia. Deixou ele na segunda e na próxima geração, que chamo de garoto porque é mais novo que eu. Lá na frente você ocupará um dia a honrosa cadeira que ocupo” — destacou Bolsonaro para completar:
“Eu amo o Nordeste, afinal de contas a minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste’.
FÉ E PATRIOTISMO – Bolsonaro disse também que “com fé e com patriotismo nós colocaremos o Brasil no lugar que ele merece”. Sobre a obra do aeroporto, comentou que “o povo de Conquista merece” e falou que determinou aos ministros “não deixar uma obra parada”.
Bolsonaro “lamentou muito” que o governador da Bahia, Rui Costa (PT), estivesse ausente da inauguração. Nesta segunda-feira, o petista cancelou sua participação e acusou o governo federal de tornar a cerimônia uma “convenção político-partidária”.
O presidente reclamou que o estado não autorizou a presença da Polícia Militar na segurança do evento. O chefe do Executivo estadual rebateu que o Planalto “fechou o aeroporto e excluiu o povo” e acusou Bolsonaro de criar uma “falsa polêmica”.
SEM RUI COSTA — “Lamento muito o governador não estar aqui, afinal de contas ele estaria ao lado do seu povo. Não queremos dividir partidos. Não aceitaremos, evidentemente, querer impor a nós o socialismo ou o comunismo” — afirmou o presidente, durante o evento na Bahia.
O aeroporto foi batizado com o nome Glauber Rocha, em homenagem ao cineasta nascido em Vitória da Conquista e que é considerado o pai do Cinema Novo, movimento cinematográfico com ênfase nas desigualdades sociais das décadas de 1960 e 1970. Glauber Rocha morreu em 22 de agosto de 1981, no Rio de Janeiro.
PREVISÃO – O aeroporto terá capacidade para receber Boings 737-700, para até 138 passageiros, e airbus A300, de até 300 passageiros. A expectativa é que o aeroporto tenha movimentação de 500 mil passageiros por ano até 2020, o dobro da capacidade do antigo aeroporto, Vicente Grilo, que agora será desativado.
Esta é a primeira visita de Bolsonaro ao Nordeste desde que microfones captaram ele se referir a “governadores de paraíba”, durante uma conversa com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, na sexta-feira passada. Na conversa, o presidente falou que “o pior é o do Maranhão”, em referência ao governador Flávio Dino (PCdoB) e orientou Lorenzoni a “não dar nada”.
O termo “paraíba” é uma forma usada, principalmente no Rio, para se referir a migrantes nordestinos. Ao final do discurso no aeroporto, o presidente disse que “ama o Nordeste” e que “somos todos paraíbas”.
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