Por Pedro do Coutto

Metade da população brasileira não conta com rede de esgoto, o que torna crítico o projeto de saneamento e, na ausência de medidas concretas, avançam as doenças. Na minha impressão, quase a metade das moléstias causadas por contaminação são resultado da deficiência nos serviços básicos de abastecimento de água e tratamento de esgotos. O tema, manchete principal da edição de O Globo, domingo, baseia-se na reportagem de Marcelo Correia.

Os dados oficiais, de outro lado, acentuam uma segunda contradição. Do ano 2010 a 2017 as estatais de saneamento investiram 59,7 bilhões de reais e gastaram 68,1 bilhões com as folhas de pagamento.

AGRAVAMENTO – Um absurdo. como se constata, mas a contradição é maior ainda: de 2010 a 2017 a população cresceu 7%. Isso quer dizer que surgiram em nosso país 14 milhões de crianças, grande parte das quais vítimas da falta de saneamento. As folhas de pessoal nesse período subiram acima da inflação acumulada. Os investimentos perderam para os índices inflacionários. Sintoma claro do agravamento do problema.

Como é possível que sucessivos governos tenham se omitido nesse setor tão fundamental para a saúde e existência humana. Faltou, e está continuando a faltar, preocupação tanto com o presente quanto em relação ao futuro.

ESTATIZAÇÃO – A criação de empresas estatais não resolveu o desafio, pois acumularam déficits sociais numa sequência impressionante da inércia e até mesmo de um relaxamento essencialmente criminoso. Basta indagar quantas pessoas morreram de 2010 para cá em consequência direta da falta de saneamento básico.

Ainda que pareça incrível, a reportagem expõe que as atuais redes não atendem a 100 milhões de pessoas, metade da população. Por reflexo, crescem velozmente as doenças que exigem tratamento médico. Os serviços públicos de saúde enfrentam uma sobrecarga muito alta, consequência direta da falta de saneamento adequado e o número de leitos no SUS está diminuindo, ao invés de aumentar.

POVO CARENTE – As favelas cariocas, por exemplo, abrigam na cidade aproximadamente 2 milhões de pessoas. No interior brasileiro, o saneamento parece fadado a atingir uma meta inalcançável. Assim, ainda focalizando as favelas do Rio chega-se à conclusão de que além da violência que as atingem deve se somar a falta de saneamento básico que atinge a todos.

Eis aqui um capítulo que se incorpora à dramática situação da    realidade social brasileira, e o presidente diz que não tem dinheiro para nada.

 

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