Por Carlos Newton
Trata-se de um analista político e sociológico fora de série, que faz carreira no Judiciário e jamais esquece de acompanhar a evolução social do país, que muitas se reduz e até entra em fase de retrocesso. Todo artigo do desembargador Pedro Valls Feu Rosa viraliza e faz sucesso no Brasil todo. O mais recente foi publicado nesta segunda-feira pelo importante site “Diário do Poder”, dos jornalistas Cláudio Humberto e Teresa Barros. Nele, o desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo mostra que o Brasil já é o país mais desnacionalizado do planeta e ainda vai pior, porque o ministro Paulo Guedes e o presidente Bolsonaro pretendem vender tudo o que nos restou.
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O BRASIL PRECISA PENSAR
Pedro Valls Feu Rosa
O Brasil é um país abençoado. Chega a ser difícil imaginar uma benesse que não tenhamos em abundância. Seja no campo das riquezas minerais, seja no da agricultura, somos um país fabuloso.
Mas nossa riqueza não é apenas material – é também humana. Temos um dos bons povos do planeta, reconhecidamente criativo, esforçado, afável e solidário.
Finalmente, temos também um importante legado de riqueza espiritual. Não somos um povo violento, amante das guerras e das invasões.
COMBINAÇÃO – Foi graças à combinação de todos esses fatores que nossos ancestrais conseguiram contornar ameaças as mais sérias, no mais das vezes fruto da cobiça de povos estrangeiros, entregando às gerações contemporâneas um país digno de orgulho.
E eis que, em nossa era, iniciamos um processo, ainda sem data prevista para acabar, de destruição lenta, quase que imperceptível, mas progressiva e constante, da tão bela Pátria que recebemos.
Nossos contemporâneos, permitam-me falar assim, praticamente iniciaram este processo quando, ao longo de diversos governos, optaram pelo transporte rodoviário em um país de dimensões continentais.
TUDO ERRADO – As consequências desta opção das gerações contemporâneas são gravíssimas. Começo pelo custo deste transporte, todo ele fornecido por empresas estrangeiras aqui instaladas. Em seguida, chego ao desperdício causado por sua ineficiência – estima-se, por exemplo, que 15% de nossa safra sejam perdidas por conta da inexistência de uma rede de transportes eficiente.
Mas a bondade das gerações atuais para com o capitalismo estrangeiro não parou aí. Seguiu firme, promovendo uma segunda “abertura dos portos” – esta última, entretanto, de resultados calamitosos para um país que pretende se desenvolver.
Em verdade, o processo de desnacionalização da economia que se promoveu no nosso país, até onde pesquisei, não encontra paralelo no planeta!
MULTINACIONAIS -Nos últimos anos, incríveis 60% das empresas brasileiras negociadas foram parar nas mãos de estrangeiros. Foi assim que chegamos ao insólito país cujos habitantes compram de empresas estrangeiras aqui instaladas.o leite de suas próprias vacas, a água mineral de suas próprias nascentes e a maioria dos produtos de sua própria terra.
Da indústria alimentícia à mineração, da comunicação à siderurgia, dos transportes à energia, o que o Brasil possuía de melhor foi vendido a grupos estrangeiros. Um país não pode se desenvolver verdadeiramente sob tais condições.
ACREDITE SE QUISER – Parece incrível, mas vergonhosamente empresas estrangeiras já são responsáveis por 70% de nossas exportações de soja, 15% das de laranja, 13% de frango, 6,5% de açúcar e álcool e 30% das de café! Isto já sangra o Brasil em mais de US$ 12 bilhões a cada ano, só a título de remessa de lucros.
Diante desta vergonha, fico a temer pela cobrança das gerações seguintes, que estão por receber de nossas mãos um país loteado, retalhado, quase que vendido.
Não se diga, cinicamente, em nossa defesa, que a culpa foi do povo. Jamais. Este está lá, padecendo nas íngremes encostas dos nossos morros, trabalhando de sol a sol, semeando e colhendo quase sempre sem apoio algum. Está lá nas fábricas e no comércio, cumprindo com o seu dever.
NOSSA CULPA – Este povo humilde, se algo der errado, terá sido vítima, jamais culpado. A culpa tem sido, é e será nossa. Nós, autoridades, empresários e formadores de opinião somos os responsáveis. Que tal pensarmos um pouco sobre isso? Afinal, como dizia Pascal, “pensar faz a grandeza do homem”.
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