Por Miguel Caballero

Como no boxe, Jair Bolsonaro é o atual detentor do cinturão das disputas eleitorais no Brasil. Para além das crises do governo e dos atritos com Legislativo e Judiciário, o principal cálculo político do presidente em 2020 será medir perdas e ganhos para decidir como abordar as eleições municipais de outubro. O cenário atual aponta que manter relativa distância dos palanques traz mais vantagens. Um mergulho nas campanhas municipais ajudaria disputas influenciadas por circunstâncias diversas a ganhar contornos de plebiscito sobre sua administração. E traz em si o desnecessário risco de derrotas que serão também debitadas na conta presidencial, ainda mais se forem do seu novo partido.

Para estar nas urnas, o Aliança pelo Brasil tem de estar aprovado pelo TSE em 4 de abril. O prazo é improvável de ser cumprido. Bolsonaro não precisa que sua nova sigla dispute as eleições para montar uma base nas prefeituras com vistas a 2022. Legalizado no segundo semestre, o Aliança pode ser o destino de prefeitos eleitos dispostos a aderir ao partido do presidente.

O correr do tempo também pode favorecer Bolsonaro. Os economistas mais ortodoxos preveem uma recuperação gradual da economia, cujos sinais até agora têm sido tímidos. Não raro, esses prognósticos falham – sem desfavor a outras razões, porque são previsões mesmo. Assumindo-se que estão corretos, é provável que o presidente tenha mais o que mostrar nas eleições de 2022, as que de fato importam para ele. Preservar a vitória nas urnas e conduzir o governo até que a tentativa de reeleição seja uma espécie de “recall” do pleito anterior tem se mostrado um caminho confortável e relativamente seguro para quem chega ao Palácio do Planalto. Por fim, manter relativa distância dos palanques ajuda a alimentar a narrativa de outsider da política que ele se esmera em manter mesmo ocupando a principal cadeira do país.

 

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