Rosana Hessel / Correio Braziliense

Os dados do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (dia 04), não permitem comemoração porque refletem uma triste realidade: a economia perdeu tração e o cenário pode piorar com a desaceleração global devido ao impacto do novo coronavírus.

Depois de crescer 0,6% no terceiro trimestre de 2019, o PIB encerrou os três meses entre outubro e dezembro com alta de 0,5%, desacelerando levemente na comparação na margem, pois, no trimestre anterior, o PIB tinha avançado 0,6%. E, no acumulado de 2019, o PIB avançou apenas 1,1%, taxa abaixo das revisadas para 2017 e 2018, de 1,3%, anos do governo Michel Temer, e menos da metade das expectativas do mercado e do governo para o avanço do PIB do início do ano, de 2,5%.

CONJUNTURA ERA BOA –  Essa perda de tração chama a atenção em um ano em que a guerra comercial entre China e Estados Unidos afetou pouco a economia brasileira e que o governo conseguiu aprovar, aos trancos e barrancos e com o presidente Jair Bolsonaro muitas vezes jogando contra o Congresso, a reforma da Previdência.

O recuo do PIB no quarto trimestre de 2019 foi puxado pela desaceleração dos dois principais motores do crescimento econômico: consumo das famílias e investimento Na comparação com o trimestre anterior, a taxa de expansão do consumo passou de 0,7% para 0,5%. Esse recuo ocorreu curiosamente em um período que costuma ser favorável para o aumento do consumo devido às festas natalinas. Enquanto isso, os investimentos, que são medidos pelo indicador Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), encolheram. Depois de registrarem alta de 1,3%, entre julho e setembro, registraram queda de 3,3%, entre outubro e dezembro.

CENÁRIO MAIS ADVERSO – Com o cenário adverso no setor externo em virtude da expansão do novo coronavírus, as projeções de crescimento deste ano estão em queda. Logo, as apostas de que o Banco Central deverá continuar cortando a taxa de juros básica (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) aumentam.

Para o economista William Jackson, da consultoria britânica Capital Economics, o colegiado deverá reduzir a Selic dos atuais 4,25% para 4% no fim deste mês. Ele contou que o resultado veio em linha com o que a consultoria estava prevendo e ainda fez um alerta para essa desaceleração “mais forte” no último trimestre de 2019.

“Fundamentalmente, o número do quarto trimestre oculta uma desaceleração acentuada no final do trimestre. O indicador de atividade econômica do Banco Central aumentou acentuadamente em termos em outubro, mas contraiu em novembro e dezembro”, alertou Jackson.

PIORES EXPECTATIVAS – Em função da piora das previsões sobre o impacto do novo coronavírus na economia global, a Capital Economics reduziu de 1,5% para 1,3% a expectativa de crescimento do PIB brasileiro em 2020. Ou, seja, na melhor das hipóteses, Bolsonaro entregará um resultado parecido com o do governo Temer.

Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, evitava comentar oficialmente a frustração com o PIB, preferindo mandar sua equipe soltar uma nota que destaca os dados na comparação anual, afirmando que “a economia mantém a trajetória de recuperação da atividade econômica”. Depois, declarou que ainda há chances de o PIB crescer mais de 2% este ano. Mas poucos acreditam.

Realmente, o momento é sério e não é para fazer piadas sem graça com bananas como tenta fazer Bolsonaro. E quem ri, está realmente sem noção da realidade.

 

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