No momento em que o Brasil ultrapassa a marca de 1 milhão de casos confirmados de coronavírus, profissionais da área da saúde preveem que falar em uma “volta à normalidade” está fora de cogitação enquanto não houver vacina para a covid-19. Isso porque, além do marco de infectados, também devem ser levados em conta fatores como o avanço da doença em diferentes regiões do país, variação de comportamento social, gestão de saúde pública e subnotificação dos casos.

“Do ponto de vista da epidemiologia, é complicado falar sobre todo o território nacional”, explica Aline Dayrell, pesquisadora do observatório de saúde urbana de Belo Horizonte e professora epidemiologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). “Existe uma discrepância entre regiões, como o Norte, que é uma das mais afetadas. No entanto, existem pesquisas de âmbito nacional que expõe uma subestimação no número de casos oficiais.”

De acordo com pesquisadores do projeto Epicovid19, primeiro estudo nacional sobre o avanço da doença no território, estima-se que o número de casos de coronavírus no Brasil pode ser até sete vezes maior do que os dados oficiais. “Se considerarmos essa subnotificação, estamos falando de mais de 6 milhões de pessoas infectadas”, alerta Dayrell. “Ainda assim, para que falássemos de uma imunização de rebanho teríamos que ter 70% do território infectado, o que significaria uma média de 140 milhões de pessoas doentes.”

Em abril deste ano, o relatório publicado pelo ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta previa o pico de casos de covid-19 até meados de setembro. Segundo a epidemiologista, dada a característica do patógeno Sars-Cov-2 de acometer o maior fluxo de pessoas durante o inverno, “seria prudente a liberação de um maior fluxo de pessoas após essa época. Mas cada local deve trabalhar com perfis diferenciados”.

Embora Belo Horizonte seja a capital com melhores índices de controle observados, a pesquisadora alerta para o aumento de casos no interior de Minas Gerais.

“Já existem especulações de escolas querendo voltar às aulas, mas é pouco provável, pois temos que garantir o distanciamento das pessoas. No supermercado, é possível, mas não em ambientes com aglomerações. Claro que podemos fazer rodízios, mas isso representa uma volta à rotina, não à normalidade.”

Prevenção x patologia

Segundo aponta a epidemiologista, a saída para cessar a epidemia em território nacional seria implantar modelos de controle de países com melhor desempenho no combate ao coronavírus: “Quando estudamos a pandemia, observamos que os países que iniciaram o isolamento precocemente conseguiram lidar melhor com a progressão dos casos. Podemos adotar o mesmo raciocínio com as ondas epidêmicas: temos que entender que uma segunda onda virá e, antes que ela venha com força, precisamos reestruturar as ações locais.”

Para trabalhar a prevenção dos casos, o médico Rubens Covello, CEO da Health Services Accreditation, defende o foco na gestão de saúde primária como “a grande virada” para combater internações e o colapso do sistema de saúde.

“Precisamos trabalhar prevenção no lugar de patologia. A assistência médica e as instituições de saúde vão ter que colocar o paciente nos centro das decisões e padronizar cuidados. É importante trazer a família, cuidadores e comunidades na discussão do diagnóstico para combater a disseminação do vírus mais rápido.”

Segundo aponta Covello, não é apenas o sistema de saúde público que necessitará de uma padronização nas unidades básicas de saúde, hospitais e medicina suplementar. “Os grande planos também terão que fazer isso de maneira muito segura para diminuir o número de pacientes dentro de um sistema como um todo”. Ele cita como exemplo a adoção da telemedicina como recurso para combater a pandemia.

“Se não padronizarmos o atendimento, ele acabará precarizado. Lá fora, a medicina digital é tendência há algum tempo e contribui muito com a prevenção. No entanto, as infromações devem estar seguras, eticamente trabalhadas e sigilosas.”

R7

 

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