A originalidade é um ótimo caminho. Mas o plágio oferece fabulosos atalhos. Lula “inventou” o Bolsa Família a partir da unificação dos programas de transferência de renda instituídos sob Fernando Henrique Cardoso. Agora, Jair Bolsonaro “criará” o Renda Brasil empurrando para dentro do Bolsa Família um lote de benefícios já existentes. Espera obter o mesmo sucesso eleitoral.

O Bolsa Família veio à luz por medida provisória. Foi editada por Lula em outubro de 2003. Aprovada pelo Congresso, a MP tornou-se a Lei 10.836, de 9 de janeiro de 2004, no alvorecer do segundo ano da Presidência do morubixaba do PT. O petismo não gosta que se diga. Entretanto, o texto da lei, espécie de certidão de nascimento do programa, traz o DNA tucano.

Está escrito que o Bolsa Família resulta da unificação do Bolsa Escola, criado em abril de 2001; do Bolsa Alimentação, criado em setembro de 2001; e do Auxílio Gás, criado em janeiro de 2002. A lei anota também que os beneficiários do programa seriam reunidos no cadastro único do governo federal, criado em julho de 2001.

Na tarde de terça-feira (25), chamada pelo ministro Paulo Guedes de “Big bang day”, o bolsonarismo reinventará o universo vitaminando o Bolsa Família com a incorporação das verbas destinadas a benefícios como o abono salarial, recebido por trabalhadores que ganham até dois pisos salariais; e o seguro-defeso, pago a pescadores em época de desova dos peixes.

No mesmo dia, pela manhã, o governo lançará o programa Casa Verde Amarela. Trata-se de uma versão reciclada do Minha Casa, Minha Vida, inaugurado sob Lula em março de 2009. Além da construção de casas, prevê a liberação de verbas para a reforma de residências populares já existentes.

Embora o “Big bang” de Paulo Guedes inclua outras iniciativas —coisas voltadas à criação de empregos e ao financiamento de obras, por exemplo— o ponto alto da terça-feira será a confirmação de que Bolsonaro decidiu enforcar Lula e os rivais petistas com a corda do PT. Fará isso sem recorrer à autocrítica. Fingirá que nunca chamou o Bolsa Família de “voto de cabresto” dos governos do PT.

Atribui-se a FHC o bordão “esqueçam o que eu escrevi”. Bolsonaro não escreveu coisa nenhuma. Mas ele vem se notabilizando por dizer uma coisa e o seu contrário. E não é só em relação ao Bolsa Família.

Bolsonaro prometeu não disputar um segundo mandato. Execrou o fisiologismo. Praguejou a CPMF. Hoje, antecipa a campanha à reeleição, distribui cargos e verbas ao centrão e autoriza o ministro da Economia a empinar uma mova versão de CPMF.

 

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