Por Vera Araújo / O Globo

A Operação Tris in idem, desencadeada pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF), na manhã desta sexta-feira, dia 28, foi responsável pelo afastamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), após uma determinação do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em um pronunciamento no auditório da sede do MPF, o coordenador da Lava Jato no Rio, o procurador-federal Eduardo El Hage, negou que a ação nesta sexta teve qualquer viés político, como afirmou o governador, também em um pronunciamento feito no Palácio das Laranjeiras, horas após seu afastamento.

PRISÃO PREVENTIVA – A Procuradoria Geral da República (PGR) apontou a existência de graves crimes envolvendo Witzel e chegou a solicitar a sua prisão preventiva ao STJ. Gonçalves, entretanto, autorizou apenas o afastamento e determinou medidas cautelares, como a proibição de manter contato com investigados e de ingressas nas dependências do governo do Rio.

— Durante a operação Favorito encontramos em sede de ligação telefônica, que chegou ao governador com relação a Unir, de Mário Peixoto. A operação de hoje não tem nenhum viés político como tenta dizer o governador Wilson Witzel. Temos um colaborador da delação que fez o acordo quando estava solto e foi desenhada uma organização criminosa. Pela gravidade da situação. Depois de dois governadores presos, é inadmissível que isso se repita. O MPF pediu a sua prisão, mas foi deferido o afastamento — disse o procurador-federal.

El Hage disse que a equipe da Força-Tarefa ficou surpresa com a mesma tipologia criminal usada nos desvios durante o governo Sergio Cabral. Outro fator é a existência de doleiros no Uruguai, onde também foram expedidos mandados de busca e apreensão.

TÚNEL DO TEMPO — “A existência da prestação de serviços e pagamentos de vantagens indevidas por meio de transportadoras de valores. Antes, a Transpress (Cabral) e, neste caso, a Fênix. Hoje nós nos vimos como se estivéssemos num túnel do tempo, revendo velhos fatos que nós já tínhamos investigado e agora com outros personagens. Nós identificamos que quatro empresas pagaram ao escritório da mulher do governador. Empresas vinculadas ao empresário Mário Peixoto, que cai numa rede de laranjas. Nós conseguimos um conjunto probatório muito forte que indica um grupo do Mário Peixoto com operadores financeiros e com a existência de pagamentos de serviços que não foram prestados, em serviços totalmente inexistentes. Também foii encontrado fatos de lavagem de dinheiro entre um de seus operadores financeiros, Gothardo Alves Netto e também o escritório da primeira dama — disse El Hage

MANDADOS DE PRISÃO – A PGR, em parceria com a Polícia Federal (PF), cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra agentes públicos, políticos e empresários envolvidos, segundo a acusação, em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro do grupo liderado pelo governador. Presidente nacional do PSC, o pastor Everaldo Pereira foi preso. Buscas foram realizadas na casa do vice-governador, Cláudio Castro.

Além do procurador-federal, participaram do pronunciamento o superintendente da Polícia Federal, Tácio Muzzi, o procurador-federal Gautiênio da Cruz Paulino, e o delegado da Polícia Federal de Brasília, Felipe Leal. Muzzi afirmou que o nome da Operação foi denominada Tris in Idem por ser a terceira vez que se chega ao vértice do governo do estado.

OUTROS ESTADOS — “As operações e investigações continuam em andamento. Além do Rio, temos mais seis estados do Nordeste com ações de busca e apreensão, ainda no exterior. Foram 82 mandados de busca e apreensão, 17 mandados de prisão, sendo seis preventivas e 11 temporárias, por crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro “— disse o superintendente da Polícia Federal.

Conforme o procurador da República, Fabio Cardoso do Amaral, representante da subprocuradora-geral, Lindôra Araújo, que entrou com o pedido de prisão ou afastamento de Witzel, há ainda uma segunda operação vinculada, que conta com o trabalho em conjunto com a Receita Federal.

O delegado Felipe Leal relembrou que as investigações tiveram início com a fraude na compra dos respiradores (Mercadores do Caos), as contratações ilícitas de OS para os hospitais de campanha (Favorito) e com a Placebo. Ele disse que, ao se aprofundarem, chegaram numa verdadeira organização criminosa instalada dentro do governo do estado.

 

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