A crise sanitária gerada pela Covid-19 beneficiou candidatos à reeleição a prefeito, aumentando sua exposição na mídia e trazendo popularidade. Os reflexos mais diretos estão nas redes sociais, onde aumentaram sua base e o engajamento com o público.

Dados levantados a partir da ferramenta Crowdtangle correspondentes ao Facebook mostram crescimento considerável. Em setembro de 2019, o crescimento médio de seguidores dos que concorrem à reeleição foi de 0,25% no mês. Em março, auge da pandemia, chegou a 5% de crescimento, caindo nos meses seguintes, mas ainda muito superior ao pré-pandemia.

O engajamento também cresceu. Dados do MonitoraBR mostram que dos seis prefeitos que mais se engajaram no Facebook em relação à média do coletivo, todos concorrem à reeleição. Edu Prange, diretor da Zeeng I MonitoraBR, destaca o caso do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), que teve 9,66% de engajamento médio:

— Ele foi o que menos interagiu no Facebook e posta pouco. Mas atingiu muita gente.

A pandemia não significou ganho para todos. O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), só registrou 1% de aumento nos seguidores entre março e agosto, segundo o MonitoraBR. Ainda assim, tem o maior número de seguidores: mais de 2,1 milhões.

 

O cientista político Humberto Dantas frisa que, apesar do protagonismo das redes, velhos modos de fazer campanha ainda estarão presentes:

— Vai ter gente na rua. E é difícil converter seguidores em votos. Vamos ter que assistir aos políticos entendendo o discurso que tem que ser feito.

Para Leonardo Firmino, especialista em opinião pública e ciência de dados do Atlas Político e pesquisador da PUC-Rio, prefeitos se beneficiaram por terem sido fonte de informação essencial na pandemia:

— Isto supõe uma vantagem comunicacional que pode se tornar vantagem eleitoral.

Especialistas apontam que o desafio é manter a popularidade após a fase mais aguda da pandemia. Segundo Prange, houve aumento acentuado de seguidores em março e abril no Facebook, mas em agosto, pela primeira vez, o valor foi negativo. No Twitter, o pico foi no mesmo período, com ganho de mais de 53 mil seguidores em cada mês. Agora, está em três mil. Em engajamento, os melhores meses foram março e abril no Facebook e abril e maio no Twitter. Os números caíram, mas continuam altos.

Dados de junho do Datafolha já mostravam que a aprovação dos prefeitos havia caído em comparação com abril. Em agosto, em nova pesquisa, 47% dos entrevistados não culpavam o presidente pelas cem mil mortes por coronavírus. Segundo Dantas, isso pode ter contribuído para a queda da avaliação dos prefeitos.

O prolongamento do isolamento social também interfere. Estudo da consultoria Quaest apontou que prefeitos de cidades com medidas mais rígidas tiveram menor aumento de popularidade. No início da pandemia, ocorria o oposto.

O Globo

 

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