O fim das coligações para o Legislativo nestas eleições municipais teve como consequência o maior isolamento dos partidos. Levantamento feito nos 5.570 municípios brasileiros, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aponta que um em cada três candidatos não formou coligação para disputar o cargo de prefeito em novembro. Em quatro anos, as candidaturas solitárias saltaram de 16% para 35% do total.

O maior isolamento foi registrado por quase todas as siglas, mas atingiu em cheio as agremiações que polarizaram a última disputa presidencial: PT e PSL. Em mais da metade das cidades onde lançaram candidatos, essas legendas estão sozinhas.

O percentual está acima do registrado por legendas como PSD, DEM e MDB, cuja taxa de isolamento gira em torno de 20%. É também quase o dobro de 2016, quando os petistas tiveram o pior resultado em uma eleição municipal em duas décadas.

Especialistas e presidentes de partidos ressaltam que, não podendo fechar chapas conjuntas para a disputa de vereador, agremiações que antes talvez fizessem alianças proporcionais em troca de apoio a chapas majoritárias tiveram menos estímulos este ano.

A estratégia foi lançar candidato a prefeito para aumentar a chance de puxar votos na Câmara de Vereadores. O distanciamento das discussões travadas no plano nacional também influenciam no isolamento de legendas mais “ideológicas”.

— Sem a possibilidade de coligação proporcional, deixa de ser interessante para legendas abrirem mão de lançar nomes próprios, que acabam sendo usados para alavancar candidaturas no Legislativo — explica Emerson Cervi, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Os dados indicam, no entanto, que lançar candidato solo não costuma ser uma boa estratégia. Em 2016, apenas 109 candidatos se elegeram sem coligação. Destes, 98% em cidades com menos de 30 mil eleitores, 2% de todas as prefeituras do país.

Desgaste e vazio

Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) diz que não foi apenas a esquerda que ficou mais fragmentada na corrida eleitoral, mas também a direita e o Centrão.

—É como no futebol, não dá pra ganhar sem entrar com o time em campo. Dá mais visibilidade quando a gente trabalha o número, o 13. Geralmente quem vota no 13 para prefeito tende a votar 13 para vereador — diz Gleisi.

Especialistas citam, ainda, o fim da atratividade de PT e PSL, distantes da “caneta” do governo federal, responsável por obras e recursos, principalmente nos municípios pequenos. O PSL ficou aquém do potencial vislumbrado após a eleição de 2018, com a debandada do clã Bolsonaro, apesar de candidaturas no Rio, São Paulo e Curitiba, e do lançamento de 731 candidatos, quatro vezes mais que em 2016.

Legendas que estão mais próximas ao poder, como PP e PSD, que hoje compõem a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), acabaram ganhando maior capilaridade. Este ano, os dois desbancaram o PSDB da segunda posição na lista de partidos com mais candidaturas.

Para Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, a partir do fim das coligações proporcionais, as alianças que existirem serão mais alinhadas ideologicamente.

— O partido sabe que para ele crescer tem que investir no seus próprios quadros. Na minha visão, a mudança tornou o sistema partidário mais saudável. A tendência é que as legendas cada vez mais disputem com candidatura própria, com mensagens específicas para seus eleitores.

Carolina Botelho, cientista política do Laboratório de Estudos Eleitorais, Comunicação Política e Opinião Pública da Uerj, acredita que, apesar da fragmentação, os prefeitos não devem sofrer com problemas de governabilidade.

— Os partidos vão se organizar de alguma forma. Há uma corrente que a hiper fragmentação é o problema, mas os dados mostram que isso não foi impeditivo de votar pautas importantes e se desenvolver. As alianças vão ser construídas em torno das pautas e das lideranças do partido — ressalta.

O Globo

 

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