Por Marcelo Tognozzi*
Donald Trump está perdendo a eleição para o coronavírus. O presidente tanto fez e tanto esperneou que acabou contraindo o vírus e literalmente perdeu o rebolado.
O cancelamento de debates acabou virando contra Trump, que agora faz de tudo para reequilibrar a disputa. Na última pesquisa do Wall Street Journal, o mais lido pela elite conservadora, branca, rica e protestante, Biden estava 11 pontos na frente de Trump.
O cruzamento de diversas as pesquisas de opinião, indica que esta tendência está se consolidando faltando menos de duas semanas para a eleição. Na média da maioria delas, Joe Biden terá 290 delegados e Trump 163. Em 2016, Trump perdeu nas costas Leste e Oeste, mas ganhou na Flórida, Texas e no meio dos Estados Unidos, conseguindo o número mágico de 270 delegados necessários para vencer no colégio eleitoral.
Nas eleições deste ano, os democratas de Joe Biden sabem que se a vitória não for inquestionável, Trump tentará judicializar o processo de apuração criando todo tipo de problema, como aconteceu em 2000, quando George W. Bush venceu Al Gore.
Os republicanos ganharam em todos os Estados do miolo dos Estados Unidos, menos no Novo México tradicionalmente democrata. Bush venceu com uma diferença mínima de 5 delegados, justamente pela vitória garantida pela Justiça na Flórida, então governada por seu irmão Jeb. No voto popular Gore levou com uma diferença de 543.816 votos. Mas esta matemática não vale para o sistema deles.
O vírus está derrotando Trump em Estados onde os republicanos costumam vencer, como Arizona, Carolina do Sul e Florida, fazendo com que eles partam para o tudo ou nada: na quarta-feira foram flagrados colocando dezenas urnas falsas na Califórnia, levando ao erro eleitores, na sua maioria democratas.
A Justiça mandou retirar as urnas e confusão foi instalada com acusações de fraude e bate-boca. Podem ter certeza de que isso foi só o começo e tem muito mais pra acontecer, porque eles estão prontos para armar o maior barraco da história.
A derrota de Donald Trump terá efeito mundial, especialmente nos destinos da nova direita que emergiu a partir de 2016.
Na Europa, a pandemia devora vorazmente o equilíbrio financeiro da União Europeia e indica a instalação de uma crise que permanecerá por anos. Aqui na América do Sul, ela terá influência direta nos destinos do Brasil e da Venezuela. Também não irá embora tão cedo.
Bolsonaro entrou com tudo no projeto de Trump, se credenciou como seu parceiro preferencial no Cone Sul. Chegou a bater de frente com a Venezuela e Argentina. Peitou os socialistas e liberais que comandam a União Europeia com dois fortes discursos na Assembleia Geral das Nações Unidas e seu potencial aliado, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, da direita do Brexit, está totalmente focado no seu próprio umbigo, ocupado na solução da crise interna.
O mundo todo está empobrecendo e o desemprego não para de aumentar. Até agora as coisas foram amenizadas pelos auxílios governamentais em dinheiro pagos pelos americanos, europeus e também pelo Brasil. Sem esta ajuda seria o caos. Mas ela não pode ser eterna.
O problema é que, mesmo conscientes disso, grande parte da comunidade mundial ainda não teve como discutir de verdade a pós pandemia diante da segunda onda do coronavírus. Há ainda uma preocupação paranóica com uma possível onda de atentados promovidos por organizações como o Estado Islâmico.
A eleição de Joe Biden obrigará o Brasil a repensar sua política externa, abrir canais de interlocução com este novo governo que já sinalizou “grande preocupação com a Amazônia”, numa conversa muito mais política e motivada pela vontade de dar o troco por causa da torcida escancarada de Bolsonaro pela vitória de Trump.
O presidente até agora não teve a satisfação de comemorar a vitória de um aliado internacional, a começar pelo argentino Mauricio Macri. Pode ser que uma vitória de Biden seja compensada com outra de direita na Europa.
Em 2022 haverá eleição presidencial na França e a direita de Marine Le Pen venceu as eleições de 2019 para o parlamento Europeu. Ela entrará no pleito como uma das favoritas. Angela Merkel, que não gosta nem de Trump nem de Bolsonaro, deve continuar mandando e muito tanto na Alemanha quanto na União Europeia.
A não ser que mais uma vez todos estejam errados, como na eleição de 2016, Trump será mandado para casa.
A vitória de Biden e do coronavírus será comemorada aqui como uma derrota de Bolsonaro. Para republicanos e democratas a reta final será duríssima; tudo ou nada, matar ou morrer.
*Jornalista. Artigo publicado originalmente no site Poder360.
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