Por Bruno Ribeiro / Estadão
Sem falar a palavra “impeachment”, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), cobrou nesta sexta-feira, 15, uma “reação” do Congresso e da sociedade à falta de ação do governo Jair Bolsonaro, a quem chamou de “facínora”, no enfrentamento da pandemia do coronavírus. As falas foram ao comentar a situação de falta de tubos de oxigênio para pacientes do Amazonas.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que almoçou com Doria no Palácio dos Bandeirantes e deixa o cargo no mês que vem, disse que o afastamento do presidente “de forma inevitável, será debatido (pelo Congresso) no futuro”.
MUDANÇA DE TOM – As declarações representaram uma mudança de tom em relação à oposição que Doria vinha fazendo desde 2019 ao presidente. Pela primeira vez, ele defendeu uma ação para retirar presidente do cargo. “Se não fizermos isso, em dois anos o Brasil estará destruído pela incompetência.”
Em uma entrevista coletiva realizada nesta tarde, que também teve a participação do candidato de Maia à Presidência da Câmara, Baleia Rossi (MDB), Doria chegou a convocar a população para fazer panelaços contra o presidente.
“Está na hora de todo o Brasil reagir”, ao convocar a população para a reação: “Será que o Brasil que já se mobilizou nas ruas pela mudança, pelas Diretas Já, por movimentos cívicos importantes, de ordem popular, vai ficar quieto e não vai reagir?”
REAÇÃO DE TODOS – Ao ser questionado se a “reação” significaria aceitar um processo de impedimento contra o presidente, Doria respondeu que a reação deveria ser de todos. “Reaja, Brasil, reaja o Congresso Nacional. Cumpra seu papel, sim, a Câmara e o Senado. Aquele que lhe cabe. E cada parlamentar sabe seu papel, a força que lhe cabe e a sua representatividade. Reajam governadores, prefeitos, dirigentes sindicais e formadores de opinião”, disse, acrescentando:
“Ampliem a reação da imprensa, um dos poucos segmentos do País que tem se mantido na firmeza de contrapor-se a um facínora que comanda o País. Reajam os que podem reagir.”
Doria foi perguntado por jornalistas se estava convocando a população para ir às ruas contra o presidente – há convocações para uma manifestação para este domingo, 17, na Avenida Paulista, circulando em grupos de WhatsApp. Ele afirmou que não, por causa da pandemia.
AMOR PELA VIDA – “Por mais amor que eu tenha pelo meu País, tenho amor pela vida. Essa aliás é uma das razões para o presidente Bolsonaro entender a pandemia. Sem povo na rua, quem protesta contra Bolsonaro? Mas há outra maneiras de fazer isso”, disse Doria, dizendo que as pessoas podem fazer “panelaços” contra o governo.
Rodrigo Maia, questionado sobre o processo de impeachment, disse que o momento agora é de o Congresso voltar a trabalhar (o Legislativo está em recesso). Ele disse ter enviado ofício ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM) pedindo ao menos o retorno da comissão representativa que trabalha durante a pandemia, para que se discutam a vacinação e convocar o ministro da Saúde, Eduardo Pazzuello, para explicações. Maia, entretanto, afirmou que o afastamento do presidente do cargo, “de forma inevitável, será debatido no futuro”.
SEGUNDO A CONSTITUIÇÃO -Baleia Rossi, entretanto, foi mais comedido. Afirmou que a avaliação de pedidos de impeachment é atribuição da Câmara dos Deputados e que os pedidos já existentes e que venham a ser apresentados serão apreciados “de acordo com a Constituição”.
As falas foram feitas em uma entrevista coletiva em apoio à candidatura do deputado federal Baleia Rossi (MDB) para a Presidência da Câmara, realizada após um almoço que contou com a participação de 20 deputados, de partidos como PSDB, MDB, DEM, Cidadania, PV, Podemos, Novo e PSL. Rossi tem apoio declarado de 11 partidos do Legislativo, mas está atrás do adversário Arthur Lira (Progressistas) na disputa, segundo o Placar Estadão publicado nesta sexta.
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