Via Congresso em Foco

Na primeira entrevista concedida após ter deixado a presidência da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) descartou qualquer possibilidade de continuar no DEM e criticou duas das principais lideranças do partido: o presidente da sigla, ACM Neto, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Maia disse ao Valor Econômico que foi traído pelos dois, que, segundo ele, lhe prometiam votos para a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela Câmara, mas, nos bastidores, agiam a favor do Planalto, que apoiou o candidato vitorioso, Arthur Lira (PP-AL). Para o deputado, ACM Neto e Caiado demonstraram falta de caráter.

“Foi um processo muito feio do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não é legítimo. Não posso, depois de ter construído relação de confiança com muita gente, parecer que sou parte desse processo não da bancada, mas da direção, de não cumprir sua palavra. Falta caráter, né? Você falar uma coisa na frente e operar de outra forma, falta caráter”, criticou. “Mesmo a gente tendo feito movimento que interessava ao candidato dele no Senado, ele entregou nossa cabeça numa bandeja para o Planalto”, acrescentou.

Maia afirma que só percebeu que estava sendo traído pelo presidente do DEM pouco antes da reunião em que ACM Neto anunciou que a bancada ficaria neutra na eleição e não apoiaria mais Baleia Rossi. “Pela relação de muitos anos, só percebi depois da reunião que foi feita comigo e com os líderes partidários antes da reunião do DEM, no domingo à noite. Do Caiado eu percebi antes. Ele dizia que não podia ficar contra mim de jeito nenhum… e nenhum voto dele vinha. A participação do Neto eu de fato só consegui acreditar no domingo”, relatou.

Segundo ele, ACM Neto não tem o mesmo talento do avô, o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, nem do tio, o ex-deputado Luis Eduardo Magalhães, pois não cumpre a palavra. Para Rodrigo Maia, o presidente do DEM se movimenta para reaproximar o partido da direita e da extrema-direita. Ele não descarta, inclusive, a possibilidade de a legenda abrigar o presidente Jair Bolsonaro, hoje sem partido.

“Apenas quero deixar claro para os que me acompanham e acompanharam meus quatro anos e sete meses à frente da Câmara que não sou um vendido, que tenho caráter, que [não] construí um bloco com partidos de direita e esquerda para enganar essas pessoas. Estarei num partido que será de oposição ao presidente Bolsonaro. O partido a que vou me filiar será de oposição, diferentemente do ACM Neto, que fala uma coisa em ‘off’ e em ‘on’ fala outra, que diz que não apoia de jeito nenhum e ao mesmo tempo dá entrevista dizendo que pode ir do Ciro ao Bolsonaro. Mostra que não tem ou perdeu a coluna vertebral”, criticou Maia.

O ex-presidente da Câmara classificou como especulação a informação de que está negociando sua ida para o Cidadania, presidido pelo ex-senador Roberto Freire. “Agora a minha necessidade de informar que não estou mais no DEM é muito importante”, afirmou.

O Congresso em Foco procurou ACM Neto e Ronaldo Caiado, mas ainda não houve retorno. O texto será atualizado caso algum deles se manifeste.

 

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