Ao ler, ontem, a entrevista bombástica do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, no jornal O Valor, na qual ataca a cúpula do DEM e se despede da legenda sem comunicar previamente aos seus velhos aliados, pelo tom ácido de profunda decepção me veio à lembrança uma constatação verdadeira e cristalina da relação humana, de autoria de Bob Marley: “Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas. O tempo passa e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!”.
Nelson Rodrigues, um dos maiores frasistas na versatilidade política e do quotidiano, dizia que se negava a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral. Também é dele o ensinamento de que toda unanimidade é burra. Maia imaginava ser unanimidade no DEM, partido que militou a vida inteira. Só esqueceu de ler Nelson Rodrigues, para quem qualquer político é mais importante que toda a Via Láctea.
Maia conviveu num serpentário e só descobriu que estava em meio das cobras quando já havia sido picado pelo veneno da traição. Vivia entre beijos e abraços com ACM Neto, o herdeiro político de Toninho Malvadeza, que reinou na Bahia fazendo mais o mal do que o bem. Não atinou, porém, já tão calejado na vida pública, que as pessoas que mais gostamos são as que mais nos decepcionam, pois pensamos que são perfeitas e esquecemos que são humanas.
Maia chorou copiosamente na despedida de mandatário da Câmara ao discursar após a eleição do seu sucessor, o alagoano Arthur Lira (PP). Foi um derramar de lágrimas quase incontido, certamente contagiado pelo sentimento de que a maior decepção é aquela que vem de quem nunca esperamos. Ele confiava cegamente em ACM Neto, imaginava que tinha o poder de influenciar não apenas o presidente do seu partido, amigo do peito, mas toda a bancada.
O resultado é que, abertas as urnas, a grande maioria dos democratas cravou o voto em Lira. Para Maia, o movimento conduzido pelo presidente do DEM, de aproximar o partido ao Governo Bolsonaro, faz com que a legenda retome sua origem de direita ou extrema-direita e afastará o apresentador Luciano Huck. “Foi um processo muito feio do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não. Falta caráter, né”, disse.
Às vezes, para consolo de Maia, é preciso uma decepção para aprender que a vida não é feita apenas de alegria, e sim de tentativas. Já ouvi, mas não tenho certeza do autor, que a ilusão da política é pior do que a do amor. Talvez Maia esteja tão pra baixo porque, provavelmente, para ele o amor não machuca. O que machuca, na verdade, é a traição, a mentira e a decepção.
Fonte: Blog do Magno
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