Fábio Schaffner / Agência RBS

Foi quase ao final do almoço, quando os 21 políticos tucanos reunidos no Palácio Piratini saboreavam doces pelotenses de sobremesa, que o governador Eduardo Leite avalizou o movimento que busca lançá-lo como alternativa do PSDB à presidência da República. O encontro realizado nesta quinta-feira (11), em Porto Alegre, explicita o racha no partido e deflagra uma disputa interna para a sucessão do presidente Jair Bolsonaro.

– Aceitei essa missão de levar essa experiência nas boas conversas que teremos Brasil afora – resumiu Leite ao final do churrasco oferecido no Galpão Crioulo.

TERCEIRA VIA – O objetivo é se contrapor às pretensões do governador de São Paulo, João Doria. Numa investida considerada desleal e precipitada pela bancada federal do PSDB, Doria cogitou assumir a presidência do partido. A manobra visava a controlar as verbas eleitorais da sigla e minar as resistências a sua pré-candidatura ao Planalto. A reação foi imediata e culminou com o desembarque da comitiva tucana em Porto Alegre.

Coube ao deputado Paulo Abi-Ackel (MG) a convocação mais incisiva. “Fizemos um chamamento para que Eduardo Leite ande pelo país, se apresente mais em Brasília. Ele pode se apresentar como personagem nacional e se colocar como pré-candidato à Presidência. É, de longe, quem conta com a maior simpatia da bancada na Câmara e no Senado” – disse o deputado Paulo Abi-Ackel, presidente do diretório tucano em Minas Gerais.

Das quase duas horas em que recebeu o grupo, Leite usou cerca de 40 minutos para exibir as realizações de seu governo, em especial as reformas, concessões e o sistema de distanciamento controlado. Ele também distribuiu um livreto com iniciativas da gestão e listou as demandas do Estado no plano federal.

QUEIXAS CONTRA DÓRIA – Os parlamentares elogiaram as conquistas e afiançaram apoio às pautas que dependem do Congresso, mas logo a conversa seguiu o rumo eleitoral. O senador Rodrigo Cunha (AL) foi o primeiro a falar, mas um a um, os visitantes enfileiraram queixas sobre a postura de Doria, sobretudo à forma como tenta impor sua candidatura ao partido e a oposição radical que alimenta em relação ao governo Bolsonaro. Ao cabo, pediram a Leite autorização para fortalecer seu nome nas discussões sobre a eleição do próximo ano.

“Conseguimos o resultado que buscamos” – celebrou Cunha, dizendo que nos próximos meses, o governador gaúcho irá aumentar a participação no debate nacional. A ideia é conceder ainda mais entrevistas a veículos do centro do país – nos últimos dias, foram ao menos quatro. A imagem a ser projetada é a de um articulador político hábil e moderado, bem como a de um gestor moderno e comprometido com o ajuste das contas públicas.

SEM REVANCHE – Eduardo Leite, contudo, fez questão de desidratar o tom de revanche a Doria que circundou o almoço, mas pontuou a necessidade de buscar conciliação, sem descartar futuras pretensões presidenciais.

“Presidência é destino, circunstância. O meu papel é ajudar. Tem uma forma de fazer política que precisa ser recuperado, focando em resultados que melhorem a vida da população e não em conflitos estéreis. O que se dá a largada aqui não é a uma candidatura. Não é o lançamento de um nome, mas sim de um movimento dentro do partido. A definição de quem vai liderá-lo é para o momento apropriado, mais à frente” – disse Leite.

 

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