Por Pedro do Coutto
O presidente Jair Bolsonaro ao investir contra os ministros do Supremo, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, propondo ações junto ao Senado para obter os seus impeachments, tem pleno conhecimento do absurdo que está cometendo e, portanto, está jogando todas as suas fichas num lance claramente voltado para a subversão da ordem política e institucional, torpedeando ao mesmo a democracia brasileira.
Sua atitude na noite de sexta-feira configura-se como uma defesa das ideias de uso da violência pelo ex-deputado Roberto Jefferson. Na minha opinião, não por acaso, o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, dirigiu-se ao STF contra o ministro Alexandre Moraes, acusando-o de praticar censura prévia contra as pregações de Roberto Jefferson.
RUPTURA – É claro que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, não dará curso, hoje, ao impulso de Jair Bolsonaro revestido de um forte apelo à ruptura democrática e normalidade das instituições. Sabendo disso previamente, como destaca a reportagem de Renato Machado, Folha de S.Paulo de domingo, o presidente da República, na realidade, decidiu partir para o confronto aberto depois da derrota do voto impresso, concluindo que a subversão da ordem é o seu único caminho para se manter no poder.
Em seu espaço de ontem no O Globo, Lauro Jardim colocou em destaque a ruptura total entre Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão que terá que sucedê-lo numa emergência constitucional. Essa emergência constitucional está bem refletida na entrevista do general Paulo Sergio Nogueira, comandante do Exército, à repórter Jussara Soares, O Globo, publicada na edição de ontem.
INTERFERÊNCIA – No texto, o general afirma que não há interferência política na força, evidentemente referindo-se ao Exército, já que não poderia falar pela Marinha e pela Aeronáutica, o que, portanto, deslocaria o contexto especifico para o plano das Forças Armadas em geral e o seu compromisso com a democracia. A entrevista do general Paulo Sérgio Nogueira foi realizada logo após a solenidade realizada na Academia Militar das Agulhas Negras, na qual esteve presente o presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro provavelmente sentiu mais essa reação contrária ao plano de tornar-se ditador do Brasil, plano aliás que deixou de ocultar. A semana que se inicia, portanto, está repleta de fatos políticos, desdobramentos partidários que vão da CPI da Pandemia à repercussão militar e política das declarações de Paulo Sérgio Nogueira.
ISOLADO – O presidente encontra-se isolado no Palácio do Planalto. A repercussão militar fixará um rumo em mais este capítulo da história brasileira que se desenrola à sombra de uma tentativa de golpe (mais um) contra a democracia. Jair Bolsonaro, na minha opinião, tenta reviver o Ato Institucional nº 5 de dezembro de 1968, de triste lembrança na memória brasileira.
Paralelamente à articulação do golpe, Fernanda Mena, Folha de S. Paulo de ontem, com base no aumento de inquéritos abertos pela Polícia Federal contra pregações neonazistas, chama a atenção para um sinistro renascer de um passado nazista entre nós.
Um absurdo completo e total, pois a Força Expedicionária Brasileira, de atuação heroica nos campos da Itália, entrou em combate e perdeu vidas humanas exatamente na luta contra o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini. A extrema-direita é uma ameaça, sobretudo, à própria dignidade humana.
PALÁCIO CAPANEMA – Em um belo artigo na edição de ontem de O Globo, Bernardo Mello Franco focaliza a total falta de sensibilidade do ministro Paulo Guedes e do próprio governo, comprovada na colocação à venda do prédio do Ministério da Educação, na Avenida Graça Aranha, Centro do Rio, uma das marcas da arte moderna brasileira, destacada como uma das obras de importância mundial. Foi colocado friamente à venda como se fosse um edifício qualquer, envolto e sepultado pela névoa do tempo.
Bisneto do senador Afonso Arinos, Bernardo Mello Franco, sem dúvida é um dos grandes jornalistas do país e de memória voltada não só para política, mas para a arte, e demonstrou com o seu artigo um absurdo completo e desqualificante para os que incluíram o MEC em um leilão de prédios sem valor arquitetônico e artístico. Exatamente o contrário que representa o edifício.
DESCOMPROMISSO – Sugiro aos que organizaram a lista e a aprovaram que tenham acesso a textos publicados em 1943 sobre a obra e o seu significado de autoria de Mário Pedrosa, Ferreira Goulart, Carlos Drummond de Andrade e Oscar Niemeyer. É possível que o governo, cujo descompromisso com a cultura é incontestável, se deixe sensibilizar por um raio de luz do passado aceso por nomes tão ilustres e essenciais à cultura tanto nacional quanto universal.
O prédio do MEC marcou também uma das primeiras construções sobre pilotis, abrindo espaços para respiração livre em faixas urbanas e a pratica de lazer e sensação de bem-estar, objetivos pelos quais a cultura se empenhou e iluminou.
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