J.R. Guzzo / Gazeta do Povo
Problemas muito complicados do mundo político, frequentemente, podem ser resolvidos com soluções muito simples – e, por isso mesmo, é tão difícil resolver alguma coisa na vida pública brasileira. Soluções simples, em geral, atendem ao interesse da maioria, mas quem toma as decisões, sempre, é a minoria – e é essa minoria, justamente, quem ganha com a complicação.
O pior tipo de problema, para as forças que influem e controlam a política nacional, é o problema resolvido; problema bom, ali, é problema em aberto, enrolado e em processo de piora. É com esse tipo de dificuldade que surgem as melhores ocasiões para se vender facilidades – e providenciar “saídas”, como se sabe, é o que realmente valoriza quem está nesse jogo.
O CASO BOLSONARO – O problema mais complicado que o Brasil tem hoje se chama Jair Bolsonaro; seus adversários não admitem, de jeito nenhum, que ele esteja na Presidência da República, basicamente por ser, em sua opinião, o pior chefe de Estado que este país já teve em toda a sua história e a pior ameaça que existe para a própria sobrevivência do Brasil.
Bolsonaro, por sua vez, quer continuar sendo presidente, e isso é muito mais que um mero desejo. Ele acaba de levar às ruas, neste último Sete de Setembro, um mar de gente, pelo País todo – multidões maiores do que qualquer outro político brasileiro poderia sonhar em ter a seu lado na praça pública.
Está nos vídeos, nas fotos e no testemunho de quem foi – é perfeitamente inútil, portando, ficar arrumando teorias de que Bolsonaro se deu mal. Ao exato contrário, se deu muitíssimo bem – e é nisso que está toda a complicação.
VAMOS À SOLUÇÃO – O que fazer, então? A solução para este problema, como lembrado acima, é a mais simples do mundo: a eleição presidencial de 2022. É claro que vão dizer, como acontece todas as vezes em que se quer resolver de fato alguma coisa: “É, mas a coisa não é assim tão simples”. Por que não? É perfeitamente simples, sim – não pode haver nada mais simples e mais claro.
O presidente da República é um débil mental mal-intencionado, inepto e perigoso que está destruindo o País, como dizem os seus adversários? Muito fácil, então: o eleitorado brasileiro simplesmente vai derrotar um sujeito assim na eleição, e colocar um outro presidente em seu lugar, não é mesmo? Qual é o problema? Eleições livres, liberdade para a população escolher e vitória, no fim, de quem tiver a maioria absoluta dos votos.
É só esperar mais um pouco: são 13 meses até lá, e o que são 13 meses nessa vida? Passa num instante.
TUDO RESOLVIDO – As imensas calamidades que aparecem todos os dias no noticiário, as “ameaças à democracia”, o “fechamento do Supremo”, as aglomerações sem máscara, as queimadas na Amazônia, o assassinato em massa de índios, gays e mulheres, a “rachadinha” – enfim, tudo o que a mídia, os analistas políticos e os “formadores de opinião” apresentam como o nosso inferno diário será resolvido com a eleição.
Ou, então, dá o contrário e Bolsonaro ganha – nesse caso, a maioria da população estará dizendo que não existe inferno nenhum, e que as coisas devem continuar como estão. Em qualquer dos casos, o problema fica resolvido.
O real perigo, para quem não quer mais Bolsonaro na Presidência, não está em golpes militares imaginários. Está no artigo 77 da Constituição, onde se diz que o presidente será eleito pelo voto livre, universal e direto da população. A menos que 342 deputados e 54 senadores deponham o presidente por impeachment, a única maneira de afastar Bolsonaro é ganhar dele na próxima eleição. “Não dá para esperar até lá”, dizem os adversários. “O País não aguenta.” A democracia manda esperar – e diz que todos têm de aguentar.
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