Por Houldine Nascimento

O anúncio de filiação do ex-ministro de Justiça e Segurança Pública Sergio Moro ao Podemos na próxima quarta-feira (10), em Brasília, é consequência de um roteiro previsível, traçado desde quando era o responsável por julgar os casos da operação Lava Jato. Por tudo que se desenha, a expectativa é de que o ex-juiz dispute a Presidência da República.

Entre março de 2014 e novembro de 2018, Moro ganhou notoriedade e atraiu os holofotes da mídia. Sua atuação enquanto magistrado deixou marcas profundas no país, dividindo opiniões. Conduções coercitivas e vazamentos ilegais praticamente não sofriam contestações pelo apoio quase irrestrito da sociedade à maior investigação contra a corrupção da história do Brasil.

Em 2016, as conversas telefônicas entre o ex-presidente Lula e um de seus advogados se tornaram públicas graças a uma decisão de Sergio Moro, passando por cima de uma prerrogativa que envolve defesa e cliente, pondo em xeque o próprio sistema judiciário. Com tamanha popularidade, o céu era o limite para o então juiz.

Vários agentes públicos, empreiteiros e doleiros foram parar na cadeia após suas decisões, o que satisfez o imaginário da sociedade, cansada de tantos escândalos e por isso ignorando os métodos. O ápice foi justamente a prisão de Lula, em abril de 2018. Já naquele momento, críticos da postura heterodoxa de Moro apontavam um interesse político por trás de seu desempenho.

No segundo ato, ele renunciou à toga e decidiu entrar para o time de ministros do presidente Jair Messias Bolsonaro, principal adversário petista. O “casamento” durou pouco mais de um ano: em abril de 2020, o então titular da pasta da Justiça saiu atirando ao acusar Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal. Por isso, foi chamado pelo ex-chefe de “Judas”.

De cotado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), Sergio Moro virou persona non grata para o bolsonarismo e se mudou para os EUA, onde trabalhou para a consultoria Alvarez & Marsal. A empresa administra judicialmente a massa falida da Odebrecht, cuida da recuperação financeira da Sete Brasil e da reestruturação da Queiroz Galvão, empresas duramente afetadas pela Lava Jato.

O caso chamou atenção do Conselho Federal da OAB, que o notificou mediante suspeitas de violação ética. Antes, a imprensa divulgou conversas entre o então juiz e procuradores da Lava Jato, a exemplo de Deltan Dallagnol, enquanto os processos corriam. Mais do que isso: Moro agiu em conluio e foi flagrado orientando a acusação, além de pressionar contra algumas delações.

Entre março e junho deste ano, o STF reconheceu a suspeição do ex-juiz sobre os processos envolvendo Lula. Agora, com o ingresso definitivo de Moro na política, a tese petista de parcialidade será utilizada mais do que nunca. Não oferecer um julgamento justo, a quem quer que seja, fere o Estado democrático de direito.

Diante disso, fica a pergunta: quem é Sergio Moro? O eleitor saberá definir.

 

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