Para combater uma inflação alta, persistente e disseminada, o Banco Central está promovendo o mais forte choque de juros em quase 20 anos, considerando que a taxa Selic deve chegar a 9,25% nesta quarta-feira, 8, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano. Em nove meses, o aumento acumulado deve somar 7,25 pontos porcentuais, do nível inicial de 2% – o mínimo histórico.
A dose cavalar de juros em curto espaço de tempo só fica atrás nos últimos 20 anos do ciclo iniciado no fim de 2002, em meio à eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Naquela oportunidade, a taxa Selic subiu 7,5 pontos em apenas três meses – de outubro a janeiro, com uma alta final de 1 ponto em fevereiro, para 26,50%.
Mesmo com os juros subindo “de elevador”, é provável que o Banco Central descumpra seu objetivo por dois anos seguidos, em 2021 e 2022, considerando a maioria das projeções de economistas ouvidos pela própria instituição para o boletim Focus. Inflação na casa dos dois dígitos promove uma bagunça na economia, prejudica a atividade e empobrece a população.
O “remédio amargo” de 1,5 ponto porcentual previsto para esta quarta é esperado pela totalidade das instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, conforme indicação do BC em outubro. Se confirmada, será a sétima elevação da taxa Selic neste ciclo de aperto monetário, que foi iniciado em março, e o nível mais alto desde setembro de 2017. O aumento do juro básico da economia se reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
Uma combinação de ponto de partida muito baixo, certa demora do Banco Central para agir e surpresas inflacionárias e fiscais explicam o processo acelerado de alta de juros, na opinião de especialistas. “O primeiro ponto para explicar a rapidez é o ponto de partida, o fato que começamos com o juro, em retrospecto, baixo demais. Essa não era minha visão no início do ano. Mas o juro a 2% estava muito baixo, a inflação descolou e o BC teve que correr atrás do prejuízo”, avalia o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC.
Segundo Schwartsman, olhando de hoje, o BC esteve “atrás da curva” desde o início do processo de alta de juros, com a necessidade de ajustar a estratégia e a comunicação a cada novo Copom. Ele também argumenta que a piora fiscal provocou desancoragem de expectativas, dificultando o trabalho do BC. “Boa parte da desancoragem das expectativas de inflação deve ser explicada pelo fato de o fiscal estar indo para o ralo.”
Tribuna do Norte
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