Por Roberto Teixeira da Costa /   O Globo

O desempenho dos índices de mercado de ações durante os governos desde 1990 fornece material para reflexão. Existe uma correlação entre o comportamento do mercado refletido nos índices da Bolsa de Valores e o mandato presidencial? É comum o “senhor mercado” ser citado em diferentes circunstâncias para indicar a reação às medidas na economia, política e até fatores institucionais e seus reflexos no preço das ações.

Quantas vezes ouvimos referência à alta ou queda dos índices da Bolsa em função de diferentes notícias nas áreas econômica, financeira e política?

REAÇÕES DO MERCADO – Também, quando uma boa ou má notícia são divulgadas ao mercado, ele nem sempre reage da forma esperada. Daí o adágio “os mercados antecipam fatos e os refletem nos preços”, que mais tarde será confirmado. Assim, o comportamento dos índices de Bolsa mostra defasagem entre o desempenho da economia e as ações negociadas, pois o índice antecipa o fato e não raramente o extrapola.

O mesmo pode acontecer com o período de um governo devido à antecipação das expectativas e dos fatos que marcaram sua atuação. O índice no início do período presidencial impactará o índice ao final de seu mandato.

O melhor retorno anualizado do índice Bovespa ocorreu no governo Itamar, seguido por Temer e Collor. Os piores desempenhos foram nos governos de Dilma e Fernando Henrique.

SEM RELAÇÃO? – Podemos concluir que os índices de mercado no período presidencial não refletem necessariamente o que foi o governo no seu relacionamento com o mercado. Dependerá do ponto de partida e do número no final do mandato.

No caso de Lula, uma possível explicação é que, no período que antecedeu sua eleição, havia dúvidas sobre seu futuro governo, e o índice refletia expectativas duvidosas no que se refere à Bolsa, que foram se dissipando ao longo de seu primeiro mandato. Os números do governo Fernando Henrique, com uma equipe totalmente alinhada com o mercado, decepcionaram. Vale lembrar a crise da dívida externa que afetou nossa região. Portanto seria errôneo afirmar que os índices representam uma posição ideológica.

Tanto no governo Fernando Henrique quanto no Lula, o comportamento do mercado foi mais positivo no primeiro mandato.

CASO DA PETROBRAS – Ao final, vale comentar fato ocorrido na Presidência de Jair Bolsonaro, que em mais de uma ocasião fez referência à Petrobras. Ao referir-se ao aumento dos combustíveis, depôs o presidente da empresa por discordar da política de preços. Posteriormente, citou que teríamos uma alteração nos preços e que haveria queda. Novamente, provocou um impacto no mercado, e a Petrobras se viu obrigada a fazer declaração pública.

Não é de hoje que suas declarações a respeito da empresa provocam repercussões no mercado, além de desconhecer que sigilo é regra básica para companhias abertas. Também fez referência à privatização da companhia. Qual investidor nacional ou internacional estaria disposto a investir bilhões de dólares na aquisição do controle de uma empresa em cuja política de preços o Estado interferirá? A solução para exercer políticas públicas na companhia seria fechar seu capital.

 

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