Por Pedro do Coutto
Quem observar com atenção e isenção o comportamento, as atitudes políticas e as declarações do presidente Jair Bolsonaro, inevitavelmente chegará à conclusão de que, por quaisquer motivos, ele está se afastando do caminho que leva às urnas de outubro, pois a cada passo seu ele perde mais votos do que ganha e com isso sua candidatura à reeleição está se esvaziando. Basta ver os fatos.
A sua posição contra a vacina é um absurdo total e, sob o ângulo das eleições, um gesto contra si mesmo e os seus próprios interesses de reeleger-se. A vacinação contra a Covid-19 é extremamente popular, o que é bastante positivo para a população brasileira, fenômeno que está comprovado por já ter abrangido praticamente 170 milhões de pessoas. Fosse a maioria contra a vacina, como é o caso de Bolsonaro, a procura pela imunização não seria tão intensa.
VACINAÇÃO INFANTIL – Agora, o presidente da República com o vídeo que gravou e colocou nas redes sociais afirmou-se contra a vacinação infantil de crianças de 5 a 11 anos, demonstrando até irritação, chamando os que defendem a blindagem prévia à Covid-19 de “tarados por vacinas”. A esse respeito, foi muito bom o artigo de Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo de sábado, que incluiu-se entre os “tarados por vacinas”, e chamou a atenção para os progressos da medicina através do tempo.
Se for feita uma pesquisa sobre a opinião dos pais a respeito da vacinação dos filhos, o resultado será superior a 80%. Bolsonaro está assim indo contra a opinião pública, contra a vontade popular, contra os eleitores e eleitoras.
EMENDA CONSTITUCIONAL – Jair Bolsonaro pressionou pela emenda constitucional que adia o pagamento de precatórios. Mas, ao mesmo tempo, alinhou-se fortemente ao Centrão, comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL; partido pelo qual se filiou para disputar a reeleição. Agora, porém, conforme eu disse no início, ele está procurando outra solução que não a eleitoral.
Tanto assim, que anunciou um aumento destinado a repor a inflação para a Polícia Federal, para a Polícia Rodoviária e para a Polícia Judiciária, o que abriu uma crise no funcionalismo federal em bloco, sobretudo por parte dos auditores da Receita. Estava claro que destinar um aumento a determinadas categorias e não estendê-las a todos o funcionalismo só poderia criar uma forte reação em cadeia para que o mesmo reajuste seja aplicado a todos. Aliás, como determina literalmente o artigo 37 da Constituição Federal.
ATAQUES ÀS URNAS – Ao longo dos últimos meses, Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas, ameaçou com a não realização de eleições se o voto impresso não fosse revigorado, mas depois recuou de forma total e ficou numa posição que revelou uma falta de segurança em matéria política. O Exército acabou sendo chamado para acompanhar o processo eleitoral no TSE e Bolsonaro mudou de opinião totalmente, como se a presença de um general no plano das eleições alterasse a estrutura das engrenagens das urnas à disposição do eleitorado.
Em determinado momento, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não cumpriria mais decisões do ministro Alexandre de Moraes. Abriu uma crise incrível. O presidente Michel Temer foi chamado a participar de um pedido de desculpas (de Bolsonaro) por ter sido ele, Temer, o autor da nomeação do ministro para a Corte Suprema. Mas o problema de Bolsonaro com o STF continuou.
Ele que havia participado de manifestação na Esplanada de Brasília com seus apoiadores pedindo o fechamento do STF, um dia afirmou publicamente que, com a nomeação do ministro Nunes Marques , ele passou a ter 10% do Supremo, como se a Corte fosse palco de uma disputa política ou desportiva, além de ter deixado mal o próprio ministro. Nunes Marques assim foi reduzido a um representante da vontade de Bolsonaro no STF.
AFRONTA – Quando do encerramento dos trabalhos da CPI da Pandemia, Bolsonaro promoveu um exercício militar em Brasília com tanques na rua , o que motivou uma forte reação coletiva que viu no episódio uma ideia de intimidação. O presidente da República havia substituído o ministro da Defesa e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Mas a questão militar que se abriu estava longe de se encerrar.
Agora mesmo, ocorreu o pronunciamento do general Paulo Sérgio Nogueira, ministro do Exército, estabelecendo a vacinação dos militares da Força e proibindo-os de lançar fake news nas redes da internet. Além de ter comunicado que devem estender a comunicação a seus parentes.
Conforme comentei na edição de ontem, o Comando do Exército estabeleceu normas de comportamento para o dia das eleições a fim de evitar que a polarização provoque hostilidade entre as correntes que se enfrentam nas urnas.
ENDEREÇO CERTO – Na verdade, a decisão do ministro Paulo Sérgio Nogueira teve um endereço muito mais amplo do que apenas pedir atenção para as vacinas. O general, no fundo, alertou para a defesa da democracia e da vontade popular nas urnas.
O presidente Jair Bolsonaro vetou o projeto aprovado pelo Congresso que incluía o Refis às micro e pequenas empresas. A matéria provocou reação no Congresso e pelos micros e pequenos empresários. Um gesto que não acrescentou voto algum, pelo contrário.
Na justificativa, Bolsonaro frisou que a sanção acarretaria uma perda de receita de R$ 1,2 bilhão em 2022. Compare-se esse valor com o orçamento federal para o próximo ano que é de R$ 4,8 trilhões.
VETO – Jair Bolsonaro vetou o projeto aprovado pela Câmara e pelo Senado que permite às emissoras de televisão e rádio podem descontar do Imposto de Renda cedido à Propaganda Eleitoral Gratuita. O presidente assim ficou contra as empresas de rádio e televisão, sobretudo porque esta compensação no Imposto de Renda tinha sido estabelecida por decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso. O veto nada acrescenta para Bolsonaro.
O presidente da República congela os salários, seguindo a política de Paulo Guedes. Mas nada diz quanto à subida acelerada dos preços, o que cria um contraste que só pode prejudicar sua candidatura no desfecho de outubro.
PETROBRAS – No início do ano passado, Bolsonaro substituiu Roberto Castello Branco pelo general Silva e Luna na Presidência da Petrobras porque Castello Branco vinha apresentando uma política de aumentos sucessivos da gasolina, do gás e do óleo diesel. Entretanto, o general Silva e Luna manteve e até ampliou a mesma política, defendendo-a numa entrevista a Irany Tereza, do Estado de S. Paulo de sábado.
Afirmou que a Petrobras não pode fazer política pública, dando a entender não ser possível conter os preços dos combustíveis. Foi um jato de água fria nos que temem reflexos ainda maiores no custo de vida.
VIAGEM – O presidente da República viajou para Santa Catarina, mergulhando nas praias do estado sem visitar as áreas atingidas por inundações na Bahia, quarto colégio eleitoral do país.
O site do SUS e a página do Ministério da Saúde na internet, segundo versão do ministro Marcelo Queiroga, sofreram a invasão de hackers. Mas isso aconteceu há quatro semanas e o sistema não foi restabelecido. Com isso, os números da pandemia e da vacinação estão sendo revelados de forma incompleta. Não se entende porque o Ministério da Saúde não conseguiu resolver o grave problema.
Bianca Gomes e Mariana Rosário, O Globo de ontem, focalizam o assunto e dizem que há um atraso de uma avalanche de informações sobre novos testes e incidências da doença que não estão vindo a público.
INÉRCIA – O presidente da República não tomou providência alguma. Nem sequer exigiu do ministro Queiroga qualquer ação para restabelecer o universo dos números do setor fundamental à integridade e à própria vida humana. Como se constata, o presidente da República é um adversário de si mesmo.
São fatos que levam à suposição de que Bolsonaro não está muito preocupado com votos, mas com qualquer outro projeto de poder. Mas para o poder só existem dois caminhos: o das urnas ou o das armas. Neste caso, o pronunciamento do general Paulo Sérgio Nogueira tem uma importância decisiva.
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