Por Adriano Oliveira *
Até 02 de abril, prazo final para a mudança de partido e a desincompatibilização dos cargos para a disputa da eleição deste ano, ruídos vão surgir diariamente na fala de políticos e na imprensa. Eles não servem para fazer previsões eleitorais, e conduzem, muitas vezes, as análises extremamente equivocadas. O ruído é o evento que pode acontecer, mas ao ocorrer fere parcialmente ou por completo a lógica da política.
A lógica da política, não falo da lógica eleitoral, a qual é mais complexa do que a primeira, não permite emoções. Mas só razão. Ela se move a base da necessidade. Os atores políticos procuram agir para conquistar ou manter o poder. Na lógica política, os atores aptos aproveitam as oportunidades. E os que não estão aptos, as perdem. No cotidiano político estão presentes atores com fortuna (sorte), mas sem virtudes (qualidades) para aproveitar as oportunidades que surgem. E existem, claro, os príncipes, os quais, têm sorte e virtude.
O sábio político é aquele que sabe fazer escolhas e tomar decisões para o futuro, considerando o presente e o passado. O político sábio consegue, através de pesquisas, ou do olhar atento para as evidências contidas no cotidiano, posicionar-se adequadamente entre os seus pares. O sábio político desconfia da oportunidade fácil, das promessas vantajosas e do otimismo eleitoral sem evidência. O político que tem sabedoria acredita em acasos.
Até 02 de abril, três peças são relevantes: o ponte de corte partidário, a nacionalização da disputa eleitoral e o financiamento público de campanha. Os pré-candidatos aos cargos do Poder Legislativo verificarão “quantos deputados o partido faz diante do quociente eleitoral X” e “quantos competidores têm mais votos do que eu”. Esta é a primeira lógica. A segunda é a nacionalização da campanha, a qual, hoje, é condicionada pela polarização lulismo versus bolsonarismo.
Quando o ator político tem como aspecto relevante a nacionalização para fazer as suas escolhas, ele está, simplesmente, verificando se o lulismo faz bem ou mal. Assim como o bolsonarismo. Por fim, diante da crise econômica e do fim do financiamento empresarial, resta o financiamento público. Portanto, candidatos negociam a sua filiação partidária considerando o que terá “para gastar na campanha”. Ao observarmos as três peças que movem a lógica da política, devemos desprezar os ruídos, os quais representam fofocas que não trazem nada de novo para a conjuntura política.
* Doutor em Ciência política. Professor da UFPE.
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