*Por Márcio de Freitas
Que me desculpem os que ainda sonham, mas a terceira via está morta. Aliás, nem sequer nasceu nesta campanha dominada plenamente pelas forças políticas populares de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Na reta final, as ações táticas ficam mais evidentes na tentativa de converter os últimos votos ainda em disputa, ou desidratar os menos aquinhoados pela população, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
O presidente Bolsonaro ataca frontalmente o coração das fileiras do exército de Lula. Atira acusações previsíveis de casos de corrupção nos governos do petista, veicula testemunhos de delatores, cita números de prejuízo ao Erário, avoca para si o controle e combate aos desvios. São casos conhecidos, de fácil entendimento e que, em 2018, geraram grande repúdio ao candidato do PT, Fernando Haddad. Detalhe: não há até agora fato novo.
Como era previsível, Lula reforçou suas defesas justamente para revidar esses ataques nestes pontos. E se preparou para retaliar na mesma moeda, citando casos investigados e denúncias da imprensa que atingem o governo nos últimos tempos no campo da corrupção. O chumbo é trocado nesta área, e a ação tende a ter efeito nulo.
Importante notar que, na cabeça do eleitor, a corrupção é inerente ao sistema político. E as campanhas de ataque neste sentido só dão mais homogeneidade às farinhas no mesmo saco. E por que foi diferente em 2018? Porque a corrupção foi vista pelo povo como um ingrediente fundamental para levar a economia do país para o buraco da recessão, inflação, desemprego, inadimplência, diminuição da oferta de políticas públicas em vários níveis.
Hoje, há uma crise provocada pela pandemia, mas as respostas dos governos posteriores não foram ainda suficientes para tornarem tangíveis ganhos que foram presenciados durante as gestões de Lula — sem entrar na discussão dos erros cometidos no final de seu segundo governo e pela sua sucessora, que puseram tudo isso a perder. O eleitor observa esse ponto de separação: no tempo de Lula, as coisas eram melhores. E isso explica o resultado da grande maioria das pesquisas.
É essa memória que a campanha de Lula cultivou o tempo todo para neutralizar as recentes melhorias nos indicadores econômicos, e tentar barrar o crescimento do presidente, que apresentou dados de avanço do PIB, queda de preços de combustíveis, aumento de emprego, pagamento maior no Auxílio Brasil etc. Até porque acontecem quase no momento da eleição, e nem sempre o eleitor se converte do dia para noite. Por isso, para o governo é fundamental ter o segundo turno para explorar esses ganhos e mostrar que, no futuro, poderá oferecer ainda mais. A oposição luta para acabar com essa disputa de imediato para não dar tempo maior ao governo na comunicação eleitoral. E evoca os belos dias idos.
Enquanto esse campo de batalha aberto é o mais visível e óbvio, Lula busca reunir outras forças para realizar ataques ao flanco do adversário. Numa reunião com ex-candidatos a presidente, colocou em destaque o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles — o criador do Teto de Gastos, que tem grande credibilidade junto aos chamados mercados — que resistiam ao petismo, mas querem saber mesmo é de ganhar dinheiro.
Além do banqueiro, Lula também levou a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, evangélica que tem boa imagem nesse segmento, onde Lula enfrenta problemas e perde de lavada para Bolsonaro. Um movimento em pinça, com ataques cirúrgicos. E ainda acena a vários pederastas e emedebistas para atrair votos de Ciro e Simone.
Bolsonaro acelera também suas ações nas redes sociais e pretende realizar lives todos os dias até o final da campanha. É seu território e onde ele circula com grande desenvoltura. Até para furar o bloqueio da grande imprensa, francamente hostil ao presidente e que cria dificuldade para que o governo multiplique suas mensagens de campanha. Lula, que já teve os mesmos problemas com os barões da imprensa, hoje curte um armistício momentâneo. E aproveita isso para ter menos uma frente de batalha, onde as forças do bolsonarismo combatem solitárias.
O tempo se esvai para os candidatos, e cada movimento das intenções de voto será cantado como vitória para um lado ou outro — mesmo dentro da margem de erro. A essa altura, Lula aposta em encerrar a disputa no primeiro round. Não deixar o petista alcançar esse intento pode ser uma importante vitória para Bolsonaro.
Analista político da FSB Comunicação
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Formado em Geografia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), professor da rede publica. Tenho experiência também em colégios particulares e sou especialista em Assessoria de Comunicação pela UNP.
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